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A
História da Arquitetura em Santos |
por
Felipe Ozores |
Arquitetura contemporânea pós-moderna |
Na última década, a produção arquitetônica
na cidade de Santos tem, em geral, seguido a lógica do
mercado imobiliário, onde o apelo comercial e o desejo
de lucros exorbitantes sacrificam qualquer compromisso com a
arte e as técnicas contemporâneas, afetando a qualidade
das obras. O melhor exemplo é a arquitetura pós-moderna,
com seus edifícios erroneamente denominados "neoclássicos".
Na pós-modernidade, como o próprio prefixo pós
sugere, há uma ruptura dos movimentos artísticos
com os ideais do Modernismo, que procurava acompanhar o aprimoramento
técnico-cientifico da sociedade através da inovação
artística, aprimoramento este que resultaria na perfeita
relação entre os homens. |

Perspectiva de 1952 do Condomínio Indaiá, no Boqueirão,
e um espigão recém
construído no Canal 5 (2006). A ocupação
do terreno, uma das preocupações da
arquitetura moderna, era feita de modo a proporcionar o máximo
de ventilação
e iluminação às unidades. Na atual pós-modernidade,
a prioridade passa a ser
o maior aproveitamento do terreno a fim de oferecer maior rentabilidade
à construtora. Este é um fator que limita a criatividade
do arquiteto e afeta
negativamente a qualidade de vida e a paisagem da cidade. |
Por outro lado, há na pós-modernidade uma nova
relação de temporalidade. Diferente da modernidade,
que acreditava na evolução constante da humanidade
através da história, até atingir uma meta
de futuro, na pós-modernidade a perspectiva de futuro
é assombrosa, já que o aprimoramento técnico-científico,
ao contrário do prometido, acarretou a produção
de armas de destruição em massa. Sem perspectiva
de futuro, voltamos o nosso olhar para o passado. Assim, não
existe possibilidade, na pós-modernidade, de criação
do novo, do inusitado; acreditamos que tudo já foi visto,
tudo já foi inventado, e passamos a rodar em círculos,
repetindo idéias do passado.
Esta é uma das explicações para o aparecimento
dessa arquitetura dita "neo-clássica", que
de novo nada tem; ao contrário, parece um equívoco,
já que rompe com a evolução da Arquitetura
que vem procurando, desde o classicismo, racionalizar as construções
pela arte e pela técnica.
O pós-moderno despreza o pensamento e a produção
arquitetônicas do século XX ao retomar, em pleno
século XXI, o ideário do século XIX. Não
existe razão nessa arquitetura que mistura estilos do
passado, utilizando nas fachadas elementos decorativos da arquitetura
clássica, muitas vezes aplicados com erros de proporção
ou mesclados com elementos de outros períodos, como por
exemplo, elementos clássicos junto aos do art-déco. |
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Os prédios pós-modernos
que vêm sendo construídos na cidade desprezam
a cultura brasileira ao empregar, no séc. XXI,
elementos típicos do séc. XIX. O surgimento
de arranha-céus, em paralelo ao uso dessa arquitetura,
é uma tentativa de alinhar a nossa paisagem às
de outras grandes cidades norte-americanas. |
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A arquitetura pós-moderna revela um absoluto desconhecimento
cultural e renuncia a uma produção arquitetônica
que seja reflexo e que tenha os significados do nosso tempo,
que reconheça as nossas especificidades locais, uma arquitetura
que seja santista, adequada ao nosso território e ao
nosso clima.
Entretanto, ainda há na cidade obras cujos arquitetos
optaram pela continuidade evolutiva da arquitetura. O Edifício
Porto Moniz (2001), de Carlos Passos, é uma obra despretensiosa
cujo projeto segue os conceitos da arquitetura moderna. O térreo
possui áreas livres sobre pilotis (pilares redondos)
e as plantas possuem disposição linear. A cobertura,
área nobre do edifício, não é privilégio
de poucos, mas de todos, uma grande área comum onde estão
os equipamentos de lazer. As varandas não são
meras varandas, mas também protegem os apartamentos da
insolação. Os acabamentos de pastilha cerâmica,
além de solução adequada ao nosso clima
tropical úmido, é fiel a nossa tradição
de "azulejar" as fachadas dos edifícios.
Toda esta coerência resulta na bela composição
da fachada, cuja plasticidade dispensa qualquer adereço
ou balagandãs decorativos. |
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O
Ed. Porto Moniz (esq.), simples e despretencioso, se destaca
pela forma como
as varandas contínuas estão dispostas, aparentemente
soltas do corpo principal, conferindo ao conjunto uma grande
plasticidade. Tanto ele quanto o Ed. Atlantis (dir.) demostram
que a beleza da arquitetura não se encontra no uso de
adereços, mas em sutilezas, no tratamento que se dá
à composição de formas e volumes. |
Assim como o Ed. Porto Moniz, algumas arquiteturas públicas
da cidade procuram dar continuidade à nossa história,
inovando nas soluções arquitetônicas. A
nova sede do Corpo de Bombeiros, na Av. Ana Costa, é
uma obra honesta com a nossa cidade, com o nosso clima. Buscou-se
ali uma solução formal que é resultado
da racionalidade de seus espaços, racionalidade esta
que permeia o projeto também nos materiais de acabamento,
como os brise-soleils colocados na fachada oeste, fundamentais
para proteger as janelas e o interior do sol intenso. |

O projeto do Posto do Gonzaga do Corpo
de Bombeiros, mais que respeitar a presença de duas palmeiras
imperiais no terreno, se apropria delas e tranforma-as em elementos
do próprio edifício. Elas deixam de ser obstáculo
para se tornar um desafio à criatividade e à busca
de uma solução plástica para o projeto
(foto PMS). |
A
Reciclagem arquitetônica |
Finalmente a reciclagem arquitetônica chega com força
ao Brasil e à Santos. Amplamente empregada em países
da Europa já há muitos anos, a reciclagem consiste
no aproveitamento de edifícios e infra-estruturas já
existentes através de sua atualização.
Este processo vem ocorrendo há décadas em centros
históricos de cidades européias onde, se não
é possível a recuperação, constrói-se
um prédio moderno por dentro da "casca" do
antigo, que permanece dando o seu testemunho histórico
através das fachadas restauradas. Modernizar e preservar
são atitudes essenciais e são inúmeras
as vantagens oferecidas pela reciclagem: fortalecimento da cultura,
educação da sociedade, melhoria da qualidade de
vida e do meio ambiente e, principalmente, a geração
de renda e empregos através da exploração
turística desse patrimônio. |
O
que ver hoje |
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Construtora Phoenix: antiga Banca Italiana Di
Desconto.
Rua XV de Novembro esq. com Rua Riachuelo - Centro Histórico |
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Câmara Municipal de Santos: em prédio
datado de 1930, antiga sede do Banco do Comércio
e da Indústria.
Rua XV de Novembro, 103 - Centro Histórico |
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Typographia Brasil
Rua XV de Novembro, 115 - Centro Histórico |
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Chez Angelo Restaurante
Rua XV de Novembro, 47 - Centro Histórico |
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Banco Bradesco
Praça Mauá, 22 - Centro Histórico |
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Associação Comercial de Santos
Rua XV de Novembro, 103 - Centro Histórico |
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Incubadora de Empresas de Santos
Rua do Comércio, 44 - Centro Histórico |
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Lanchonete McDonalds
Praça Mauá - Centro Histórico |
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Exemplos de reciclagem arquitetônica:
à esquerda, a Construtora Phoenix na ex-
sede da Banca Italiana di Desconto. Acima, a ex-Incubadora
de Empresas de Santos em prédio restaurado
da Rua do Comércio. Abaixo, o grande prédio
da Rua Brás Cubas restaurado e adaptado para
sediar um club noturno. |
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A
História da Arquitetura
em Santos - índice geral |
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7 |
Sec. XXI - arquitetura
contemporânea
(a arquitetura pós-moderna - reciclagem arquitetônica) |
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Bibliografia |
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