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A
História da Arquitetura em Santos |
por
Felipe Ozores |
Século
XVII - O Barroco na arquitetura de Santos |
Se até o século XVI a imaginação
era desvalorizada, por ser considerada o lado oposto do conhecimento,
a partir do século XVII há uma mudança
na percepção da imaginação e ela
passa a produzir valores. Surge uma especialização
profissional na realização de obras de arte religiosas
(como as do Aleijadinho no Brasil), que aos poucos confere uma
maior autonomia do artista em relação a conceitos
até então pré-concebidos. Pela primeira
vez o artista via a arte como um produto de sua mente, e não
da natureza ou de uma autoridade.
A apropriação do Barroco pela Igreja Católica
Romana é uma tentativa de persuadir a população
a se converter ao Deus católico, em face das heresias
da contra-reforma protestante que ameaçavam o poder de
Roma. O esforço é para passar a crença
em algo que não está presente, mas que se coloca
no horizonte do possível, através da imaginação
expressa na arquitetura e na decoração do interior
de suas igrejas. Estas não devem localizar-se em cantos
isolados da cidade, mas sim, representar o significado do poder
de Deus através de sua monumentalização.
Na cidade de Santos, as igrejas das Ordens I e III do Carmo,
projetadas pelo mestre Manoel Lopes, são as que melhor
representam o ideário barroco. Com o término da
construção, em 1752, o conjunto abrangia também
a maior parte do convento carmelita, já demolido. Na
época, o conjunto do Carmo se destacava das demais construções
da cidade por seu porte e sofisticação arquitetônica.
Curiosamente, a torre não foi construída entre
a igreja e o convento, como na maioria dos conjuntos desse período,
o que lhe atribui um aspecto singular. Sua fachada possui portas
e balcões superiores encimadas por verga curva de pedra
e arrematada por frontal ondulado, o mesmo ocorrendo na Ordem
III. A torre do campanário é revestida em azulejos
marianos do século XVII e coberta por cúpula bulbosa,
comum a este movimento artístico. Quanto às obras
de arte internas, o retábulo central, primorosa obra
de entalhe, segue as características daqueles esculpidos
na metade do século XVIII: as colunas afastadas dão
lugar à imagem de Nossa Senhora do Carmo, volutas e florões
levados pela imaginação multiplicam-se por toda
a parte, dando suporte aos arcos que recebem o dossel. |
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Acima na foto à esquerda se vê
o conjunto do Carmo, formado por duas igrejas,
uma torre de
sinos e o convento. A Capela da Ordem Terceira
do Carmo (da esquerda) possui uma pia batismal de 1710 e o conjunto
barroco
dos altares
laterais, representando a via sacra, é
considerado o mais importante
do litoral paulista. A
igreja de N. Sra do Carmo (da direita) tem altares laterais
esculpidos
em jacarandá e o altar-mor em estilo rococó
folheado
a ouro (foto à direita). |
O
que ver hoje |
Igrejas
e Convento do Carmo: conjunto concluído em 1752.
Praça Barão do Rio Branco, s/n - Centro |
O
que perdemos |
Igreja
Matriz de Todos os Santos: datada de 1746, ficava na atual
Praça da República e foi demolida em 1908, quando
a praça foi reurbanizada e recebeu o monumento a Brás
Cubas. Igreja
de São Francisco de Paula: datada de 1760 e inicialmente
chamada de Igreja de São Jerônimo, ficava no sopé
do Monte Serrat, ao lado do túnel. Serviu à Irmandade
da Santa Casa de Misericórdia e foi desativada em 1945,
quando o hospital mudou para o Jabaquara. Foi demolida no final
dos anos 50. Capela
de Jesus, Maria e José: ficava na Rua da Praia (atual
Tuiuti), e foi demolida em 1902 para a construção
do cais. Foi conhecida como Igreja do Carvalho, por ter sido
mandada construir pelo coronel de milícias José
Antonio Vieira de Carvalho, e recebeu ainda outras denominações,
como Capela do Terço e de N. Sra. da Conceição.. |

A Igreja da Matriz de Todos os Santos
em postal que circulava em 1905.
Com a reurbanização da Praça da República,
em 1908, ela foi demolida
sob a alegação de que estava infestada por cupins
(col. João Gerodetti). |
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História da Arquitetura
em Santos - índice geral |
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3 |
Sec. XVII e XVIII
- influência religiosa (arquitetura barroca) |
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pag.4 |
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