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A
História da Arquitetura em Santos |
por
Felipe Ozores |
Século
XVI - A Arquitetura jesuíta do período colonial |
O trabalho dos padres jesuítas e da Companhia de Jesus
no Brasil, tem início no fim do Renascimento (séc.
XVI), quando na Europa o uso da arquitetura de ordem clássica
começava a se desgastar. A arquitetura jesuíta
foi formulada pelo arquiteto romano Felipe Terzi, artista que
sabia traduzir, através de uma nova escola, os ideais
da contra-reforma, e que atuava junto à Companhia de
Jesus em Lisboa.
Em Santos, o mais antigo e ainda remanescente edifício
que mostra essa influência é a Igreja de Nossa
Senhora do Monte Serrat, construída em 1603 por ordem
do governador espanhol Dom Francisco de Souza, quando a coroa
portuguesa estava sob domínio espanhol. Sua arquitetura
apresenta as características moderadas, regulares e frias
da arquitetura jesuíta, ao mesmo tempo que seu frontão
já apresenta o uso modesto, ainda primário, da
forma livre barroca. A cobertura da pequena torre, feita com
tijolo e acabamento de extradorso caiado, em forma de meia laranja,
indica a boa influência da técnica moura do moçárabe.
A igreja possui uma nave só, do tipo mais singelo, com
capela-mor e nave constituindo um mesmo corpo de construção,
divididas convencionalmente por um arco cruzeiro. Da decoração
interior não restam vestígios, já que uma
reforma a descaracterizou.
Outro edifício que ainda apresenta características
da arquitetura jesuíta é o Mosteiro de São
Bento. Construído a partir da apropriação
de Igreja de Nossa Senhora do Desterro (1631), e totalmente
concluído em 1750, o conjunto segue projeto do Frei Gregório
de Magalhães e apresenta o desenho em quadra típico
nas construções jesuítas e características
do barroco beneditino. Nota-se que a igreja e o mosteiro formam
um único conjunto, uma quadra que desenha um pátio
interno comum a ambos, sendo que uma quarta parte desta quadra
é ocupada pela igreja, e as demais, pelo mosteiro. As
fachadas dos dois edifícios estão alinhadas, formando
um único plano em elevação. A localização
da torre, entre a igreja e o corpo do mosteiro, indica que haveria
a possibilidade de se construir uma segunda torre depois. |

Duas igrejas que mostram a influência
da arquitetura jesuíta no período
colonial brasileiro: a do Monte Serrat (à esquerda),
a mais antiga
da cidade, e a capela de Nossa Senhora do Desterro e Mosteiro
de São Bento, à direita, em foto de Berenice Kauffmann
Abud. |
O
que ver hoje |
Igreja
Nossa Senhora do Monte Serrat: datada de 1603.
Caminho Monsenhor Moreira, 33 - Monte Serrat (acesso por bonde
funicular na Praça Correia de Melo, 33 - Centro)
Igreja
e Mosteiro de São Bento: a igreja foi construída
em 1631 e o mosteiro foi interiamente concluído em 1750.
Rua Santa Joana D’Arc, s/n - Morro de São Bento
- Centro Capela
Venerável da Ordem Terceira de São Francisco da
Penitência: localizada dentro do Santuário
do Valongo, é a única parte do conjunto que mantém
suas características arquitetônicas originais,
já que igreja de Santo Antonio foi descaracterizada por
uma reforma em 1935. Seu retábulo, o mais antigo da cidade,
foi tombado pelo IPHAN. |
O
que perdemos |
Igreja
de Santa Catarina: datada de 1540 e reconstruída
em 1680, ficava no Outeiro do mesmo nome. A imagem original
de Santa Catarina, uma relíquia, é a mais antiga
peça do acervo do Museu de Arte Sacra de Santos. No final
do século XIX a Igreja foi demolida e parte do outeiro
desmanchado.
Igreja
da Graça: datada de 1562, ficava no caminho de Santo
Antônio, na esquina das atuais ruas do Comércio
e José Ricardo. Foi demolida em 1903. Restos mortais
de seu cemitério foram achados por ocasião
das últimas obras de remodelação da Rua
do Comércio. Igreja
da Misericórdia: construída em 1665 pela Irmandade
da Santa Casa de Misericórdia, que funcionou em sua segunda
sede no Largo da Misericórdia, atual Praça Mauá.
Foi demolida por volta de 1840. |
Arquitetura
militar portuguesa: a afirmação do território |
A Casa do Trem Bélico é o único remanescente
em nossa cidade de um edifício projetado por arquitetos
da coroa portuguesa em Lisboa, a mando de D. João IV.
Portugal acabava de se livrar do domínio da coroa espanhola
(1580-1640) e sua construção afirmava a posse
e a presença do Estado português em terras santistas.
Construída entre 1640 e 1656, a Casa do Trem Bélico
é uma edificação militar destinada a abrigar
repartições e arsenais do exército português
na cidade, principalmente para a guarda de armamentos e equipamentos,
naquela época chamados trens-de-guerra. Sua aparência
não difere daquelas existentes nas principais edificações
militares projetadas em Portugal e construídas no Brasil,
com largas paredes estruturais compostas dos mais variados tamanhos
de pedras e pequenas aberturas. A liga utilizada para levantar
as paredes era uma mistura de cal de sambaqui (restos de conchas
marinhas) e óleo de baleia.
Possui entradas independentes aos dois pavimentos, ao térreo
por uma porta que ainda guarda a moldura destinada ao brasão
da coroa (retirada por populares quando foi proclamada a República)
e ao primeiro pavimento por uma escada lateral em pedras que
dá acesso à um alpendre onde se localiza a entrada.
O piso do primeiro pavimento é feito em madeira com vigas
dispostas no sentido transversal, enquanto que a cobertura em
quatro águas é estruturada pelo sistema de falsa
tesoura. Infelizmente, o edifício, de importância
nacional e tombado pelo IPHAN, encontra-se sem uso e fechado
à visitação pública, fatores que
colaboram para sua degradação. |

Casa do Trem Bélico, única
edificação na cidade projetada em Portugal, abrigava
um arsenal e a repartição militar. Sua construção
veio afirmar a posse da Coroa portuguesa sobre o território
colonial santista, logo após o fim do domínio
espanhol. |
O
que ver hoje |
Casa
do Trem Bélico: datada provavelmente do século
XVI mas com existência comprovada somente a partir de
1734.
Rua do Tiro, 11 - Centro |
A
História da Arquitetura
em Santos - índice geral |
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Sec. XVI - Arquitetura
portuguesa (jesuíta e militar) |
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pag.3 |
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