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História da Arquitetura em Santos |
por
Felipe Ozores |
Introdução |
O nosso cotidiano é cheio de afazeres: ir ao trabalho,
levar as crianças à escola, ir ao supermercado,
ao banco, ao dentista, ao cinema, ao salão de beleza,
encontrar um amigo para um café, surfar, sentar-se no
jardim da praia, e tantas outras funções que,
obrigatoriamente ou não, ocupam o nosso dia a dia. Todas
essas funções refletem-se na cidade e criam espaços
apropriados a cada uma delas: a escola, o bar, o banco, o café,
o escritório, o consultório. Quando saimos de
casa para surfar, por exemplo, usamos os espaços da cidade
(sua infra-estrutura) para ir até o quebra-mar: ruas,
calçadas, o sinal para atravessar a avenida, os jardins
e finalmente a praia, que não é obra do homem,
mas foi apropriada por ele.
No nosso cotidiano usamos espaços projetados com o objetivo
de proporcionar conforto ao nosso dia a dia, criar uma sensação
de bem-estar, enquanto moramos ou trabalhamos, conforto proporcionado
tanto pela beleza quanto pela funcionalidade. E este é
o principal papel da arquitetura e do urbanismo: projetar e
desenhar os espaços onde a vida acontece. |
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A paisagem urbana
vai se modificando de acordo com as nossas atividades
e os usos que fazemos de seus espaços, mas nem
sempre este é um processo organizado.
A arquitetura e o urbanismo são os instrumentos
para ordenar esse caos. |
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Desenhando
e projetando nosso tempo e nossa história
Todos esses desenhos que definem a cidade procuram atender as
necessidades de nosso atual cotidiano, de nosso tempo, de nosso
atual modo de vida. Por mais moderno que aparente ser, esse
desenho possui um limite, imposto pela técnica que conhecemos
para construí-lo. Hoje as ruas necessitam de sinal nos
cruzamentos, mas no futuro os carros poderão vir a voar
e daí não teremos mais a necessidade do sinal.
Ou seja, como não conhecemos esta tecnologia, temos sinal
no cruzamento. O mesmo ocorre para a arquitetura: quando construímos
um edifício, não o fazemos flutuando, por exemplo,
porque ainda não conhecemos a técnica que o permita.
Portanto, a arquitetura desenha o espaço de acordo com
a técnica que conhecemos em nosso tempo e de acordo com
as necessidades de nosso atual cotidiano.
Ao longo do tempo, permanecem na cidade edifícios que
nos mostram o desenho do cotidiano de outras épocas,
de outros modos de vida, assim como no futuro nossos descendentes
poderão encontrar na cidade edifícios que mostrem
a eles como vivemos hoje. A arquitetura registra a nossa história
de forma diferente da fotografia. Pela arquitetura, nossos descendentes
poderão sentir o nosso tempo, ver como eram nossas casas,
quais eram os nossos valores, nossa educação,
enfim, como vivíamos. Daí a importância
de preservarmos os edifícios significativos da cidade.
Quando observamos a Igreja do Carmo ao lado do moderno edifício
do antigo IBC (atual sede da Justiça Federal, na Praça
Barão de Rio Branco), temos um choque, pois ali há
um contraste de duas épocas distintas, de diferentes
valores, tecnologias e conceitos de beleza (arte). A igreja
do Carmo (sec XVIII) não foi construída com a
altura do Edifício do IBC porque a técnica de
contrução da época ainda não conhecia
o concreto armado; suas paredes são feitas de pedra e
taipa de pilão (barro socado). A Igreja do Carmo representa
uma época na qual frenqüentar a igreja era uma importante
atividade do cotidiano; já o edifício do IBC indica
a principal atividade no cotidiano da segunda metade do séc
XX: os negócios. |

O constraste entre a torre barroca do
Carmo e o moderno edifício da Justiça
Federal mostram, no mesmo espaço da cidade, duas arquiteturas,
duas
épocas: registros de modos de vida e produção
completamente diferentes. |
A
importância da arquitetura no patrimônio histórico
O que pretendemos mostrar nesta página é como
a arquitetura e o urbanismo se relacionam diretamente com a
história e a sociologia. O engenheiro possui o grande
mérito de calcular estruturas de qualquer tipo, mas é
ao arquiteto que cabe a visão mais ampla da sociedade.
O arquiteto imprime à obra os valores e signos de nossa
época.
Por isto, o patrimônio histórico de Santos é
tão belo, significativo e torna-se, a cada dia, a principal
atração turística da cidade e cenário
para novelas e minisséries. Hoje, ao visitar o Centro
Histórico de nossa cidade, podemos nos surpreender com
a diferença entre os edifícios do passado e a
tecnologia do presente. Podemos visitar a Estação
do Valongo, que nos leva à uma época na qual o
trem era o meio de transporte mais avançado, ou então
a Casa de Frontaria Azulejada, quando se podia morar sobre armazéns
de cargas, dois edifícios que conciliam suas funções
com conceitos de beleza representativos de sua época.
A
Arquitetura na história de Santos
Através da arquitetura presente em nossa cidade poderíamos
montar um relato da evolução histórica
de nossa sociedade. Os diferentes estilos, suas formas e desenhos,
não existem à toa ou surgem do nada, mas sim porque
possuem uma razão de ser que se fundamenta nas questões
de um determinado momento de nossa história. E se cada
momento da história surge a partir da evolução
do momento anterior, podemos afirmar que um estilo surge em
razão do estilo anterior, como sua evolução,
como sua adaptação às novas tecnologias
e novas questões que vão surgindo ao longo do
tempo. Das linhas sóbrias da obra jesuíta no século
XVI, passando pela imaginação do barroco no século
XVII, pela perfeita proporção do neoclássico
no sec XVIII, pela ostentação do eclético
no sec XIX, pela racionalidade do moderno no século XX
e até a irracionalidade do pós-moderno no século
XXI, a arquitetura de Santos é rica justamente por poder
contar nossa história e a história da humanidade.
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Numa linha do tempo, dos séculos
XIX, XX e XXI, temos o eclético,
o moderno e o pós-moderno. A arquitetura, que deveria
seguir uma
evolução de acordo com a tecnologia e o modo de
vida, hoje volta
a buscar no passado elementos que não se ajustam à
nossa época. |
A
História da Arquitetura
em Santos - índice geral |
1 |
Introdução
- compreendendo arquitetura e urbanismo |
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pag.2 |
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