|
|
|
A
evolução urbana de Santos |
1502
- Evolução pré-urbana |
Os métodos
ubanísticos a partir da povoação
Após o descobrimento da América e a assinatura
do Tratado de Tordesilhas entre Espanha e Portugal, era intenção
do governo português explorar o território brasileiro
através da criação de feitorias e a cobrança
de impostos sobre a extração de recursos naturais
e a produção de açúcar. Ao contrário
do português, o Reino Espanhol tinha na América
uma extensão de seu próprio território,
fundando cidades planejadas, escolas, hospitais, universidades
e criando uma tradicional presença do Estado. As primeiras
ocupações do território brasileiro pelos
portugueses eram apenas uma consequência de suas atividades
exploradoras. Explica-se assim o fato do povoado de Santos ter
se iniciado a partir de uma ocupação informal
do território, sem nenhum planejamento, com ruas sendo
abertas sobre antigas trilhas indígenas que acompanhavam
a geografia do território, fato que pode ser observado
no traçado irregular de algumas ruas do Centro Histórico
de Santos. A Rua XV de Novembro, por exemplo, sofreu um desvio
devido à existência de uma área de mangue
ao longo da Rua do Comércio. Somente a partir do século
XIX é que se fariam correções e se aplicaria
a conceituação romana de urbanismo, o "plano
xadrez": os grandes largos em frente aos edifícios
principais, as fontes monumentalizadas e as ruas perpendiculares,
criando normas rígidas de circulação, vida
e convivência. As
primeiras ocupações de terras
Nos primeiros tempos da colonização, a partir
da distribuição das sesmarias, a região
do Enguaguaçu é ocupada: José Adorno instala
seu engenho próximo ao Morro de São Bento, no
Valongo; Pascoal Fernandes e Domingos Pires se unem na construção
de uma casa e na plantação de cana para alimentar
o engenho e cultivam as terras entre o Estuário e a encosta
do Monte Serrat, do Corpo de Bombeiros até onde está
a Cadeia Velha; Luiz de Góes se estabelece no Centro,
próximo ao Outeiro de Santa Catarina; Mestre Bartolomeu
Gonçalves se estabelece no atual Morro de São
Bento; e finalmente, Brás Cubas fica com o Monte Serrat.
Outras áreas são ocupadas nos arredores, mas é
no Enguaguaçu que começa a se formar uma povoação,
em torno do cultivo da cana e sua industrialização,
com a instalação de uma oficina de ferreiro, das
primeiras tulhas, dos primeiros ranchos de colonos e monjolos,
de mais dois engenhos e das primeiras capelas. O porto é
transferido de sua localização na Ponta da Praia
para o Lagamar do Enguaguaçu em 1540, consolidando de
vez as raízes do novo povoado, com a construção
das primeiras pontes de atracação e trapiches.
Nesse mesmo ano é construída a Igreja de Santa
Catarina e em 1543 é fundado o hospital. A
vida da Vila no século XVI
Em 1546 o povoado recebe o foro de Vila, quando então
possuía cerca de 350 habitantes. A nova Vila cria a Casa
do Conselho, cuja primeira sede ficava no local da Alfândega
atual e, em 1550, a Alfândega é instalada. Em 1560
é construído o Forte junto ao ribeirão
do Itororó. A Vila ganha um pelourinho e o desenvolvimento
econômico atrai novos moradores e novas casas são
construídas ao longo das ruas. Cruzes e sinais demarcavam
as propriedades e ainda hoje existe, no Centro, uma preciosa
relíquia desses tempos pioneiros: uma cruz de granito,
atualmente no pátio do Convento do Carmo, que demarcava
o início da antiga Rua da Cruz. |

A Casa do Trem Bélico, que guardava
munições para as fortalezas da região e
a
Igreja de Santa Catarina, que foi a primeira Matriz da nova
Vila (tela de Calixto). |
Mudanças
na economia modificam a Vila
Com a produção do açúcar em grande
escala no Nordeste, a Vila entra numa fase de marasmo, interrompida
apenas com a fundação e início do desenvolvimento
da Vila de São Paulo de Piratininga, a partir de 1554,
quando o porto de Santos torna-se elo vital para o planalto.
A partir de 1570, novas casas comerciais se estabelecem na região
do atual bairro do Valongo e fazem daquela área a mais
movimentada da Vila e do porto, atraindo para lá o fundeadouro
comum e a Alfândega, que passa a funcionar em um casarão
levantado na praia, em frente ao Beco da Alfândega Velha
(depois Travessa da Banca do Peixe, Rua 11 de Junho, atual Riachuelo).
Para a ligação do antigo núcleo, próximo
ao Outeiro de Santa Catarina, com a nova área no Valongo
é criado um caminho, a Rua Direita, que viria a ser no
futuro a principal rua da cidade (Rua XV de Novembro). |

A Igreja Matriz, cujo largo à frente
daria lugar à Praça da República. No alto
à direita o Outeiro e Igreja de Santa Catarina. À
esquerda, o Colégio dos Jesuítas,
em prédio que já fora Casa do Conselho. Esse prédio,
chamado "Palacete"
viria a abrigar a Alfândega (na parte da igreja), o Hospital
Militar (parte leste)
e o Palácio (restante do prédio), que abrigava
autoridades em visita à Vila - ali
se alojaram D. Pedro I e sua comitiva em 1822. (tela de Benedicto
Calixto) |
|
1600
- A vila caminha para o norte |
O surgimento da
Rua Principal
Em 1580 Santos possuía basicamente dois núcleos
urbanos, ligados por uma via denominada Rua Direita. De um lado,
a área do Valongo, com hospedarias e casas comerciais,
e de outro lado, a área principal, junto ao Outeiro de
Santa Catarina, com os Quartéis e a Casa do Conselho.
Em 1585 a Casa do Conselho é transferida para novo local
e o antigo prédio é doado aos jesuítas,
que nele constróem o Convento, a Igreja e o Colégio.
1600 - Aspectos
gerais da Vila
No final do século XVI, a Vila possuía uma população
fixa aproximada de 600 pessoas e 100 casas regulares, fora as
cabanas de mestiços e indígenas. A maioria da
população era mestiça, os comerciantes
eram em número regular e suas casas ocupavam as áreas
ao longo do porto, mais para o lado do Ribeirão de São
Jerônimo, por onde chegavam as canoas de mercadores do
planalto. Para dificultar ataques e invasões, a Vila
era cercada por muros a leste e ao oeste, ao sul pela barreira
representada pelo Monte Serrat e ao norte pelo Forte da Vila
e as águas do Lagamar de Enguaguaçu.
A Rua Direita é
ocupada
Em 1642 é construído o Mosteiro de São
Francisco (depois Santo Antonio), no Valongo e em 1650 é
fundado o Mosteiro de São Bento. Em meados do século
a Vila entra em profunda crise econômica, agravada pela
transferência da Capital da Capitania para São
Paulo e pela evasão de moradores que partem nas bandeiras
em busca de fortuna. Daí até o final do século
XVII e início do século XVIII, apenas algumas
igrejas aparecem no cenário urbano: a Igreja de Santo
Antonio, junto ao Mosteiro no Valongo (1691), a Igreja Matriz
(1746) e a Igreja do Carmo (cerca de 1760). Nesse período,
a Vila cresce mais para os lados do Valongo, que concentra as
zonas comercial e residencial mais abastada e as melhores hospedarias.
A Rua Direita se fixa como eixo principal da Vila e ao longo
dela são construídas inúmeras casas e sobrados
para moradia. |
 |
Acima e abaixo, a Rua Direita
em dois ângulos . Acima, o pelourinho, a Igreja
do Carmo e o Arsenal da Marinha à direita. Abaixo, a
nova Casa de Câmara
e Cadeia, ocupando espaço da atual Praça da República
(telas de B. Calixto). |
 |
1765
- A vila caminha para o oeste |
Santos, aspectos
urbanos, 1765
Em 1765, Santos possuía uma população fixa
de 2.081 habitantes e uma dezena de ruas e praças, sendo
que algumas delas já tinham outros nomes. Eram elas:
Rua Direita (dos Quatro Cantos à Ponte do Carmo), Rua
de São Francisco (da ponte aos Quatro Cantos), Beco da
Alfândega Velha, Rua da Misericórdia, Rua da Praia,
Travessa da Banca do Peixe (da Rua Direita ao Porto, junto a
Alfândega velha), Beco de Maria Francisca (da Rua Direita
ao campo, oposta à Tr. da Banca do Peixe), Beco de Gonçalo
Borges, Travessa do Parto (cortando a Rua Direita até
o canto do Itororó), Rua Pequena (do Pelourinho até
a Matriz e daí até o Outeiro), Rua do Hospital
(do antigo hospital até o fim dos Quartéis), Rua
do Cortume (do caminho para a Fonte de São Jerônimo
até o Valongo), Travessa do Carmo (atrás do Carmo)
e
Rua do Valongo (da Rua do Cortume ao Estuário). Havia
nomes para outros locais na área urbana, mas estes eram
os principais. Cortando a vila havia quatro cursos d'água
que nasciam nas encostas dos morros, atravessavam a área
rural e desaguavam no porto. Esses "ribeiros", cujas
fontes forneciam água para a Vila, não impediam
o seu crescimento e a sequência das ruas. |
 |
1- Igreja de S. Catarina
2- Casa do Trem Bélico
3- Quartéis
4- Matriz
5- Colégio dos Jesuítas
6- Forte da Vila
7- Câmara e Cadeia
8- Pelourinho
9- Arsenal da Marinha
10- Igreja e Convento do Carmo |
11- Alfândega velha
12- Igreja da Misericórdia
13- Alfândega nova
14- Quatro Cantos
15- Igreja da Graça
16- Convento de S. Francisco
17- Mosteiro de São Bento
18- Igreja de S. Jerônimo
19- Fonte do Itororó
20- Fonte das Duas Pedras |
|
Como se pode observar no mapa da Vila em 1765, há um
desvio no eixo formado pela Rua Direita e Rua São Francisco;
isto se deve à existência, na época em que
o caminho foi aberto, de uma área de mangue ao longo
da Rua São Francisco (atual Rua do Comércio).
Esse desvio criou um local que ficou conhecido como os Quatro
Cantos (14 no mapa), local onde a rua Direita era cortada pela
Travessa da Alfândega e Beco do Inferno (atual Frei Gaspar).
Dos Quatro Cantos em diante, o eixo tomava o nome de Rua São
Francisco - a primeira quadra logo receberia o nome de Rua Antonina
(onde hoje está o calçadão da Rua XV).
Os Quatro Cantos era um ponto de referência e talvez tenha
se destacado apenas por ser o primeiro cruzamento envolvendo
quatro ruas distintas. Os
ribeiros da vila
1- Ribeirão de São Bento: nascia no Morro de São
Bento, atrás do antigo Mosteiro de São Bento,
atual Museu de Arte Sacra de Santos. Seguia junto ao morro,
passando e seguindo paralelamente à Rua dos Cortumes
(atual Rua São Bento), indo em frente e desaguando no
estuário, defronte ao Convento do Valongo.
2 - Ribeirão de São Jerônimo: nascia no
Monte Serrat, próximo à Igreja de São Francisco
de Paula (atrás da saída do túnel). Atravessava
a planície, cruzava a Rua São Francisco, desaguando
em área de mangue próxima aos "Quatro Cantos",
na Rua Direita.
3 - Ribeirão do Itororó: nascia no Monte Serrat
e seu traçado seguia por onde hoje estão as Ruas
Itororó e Augusto Severo, desaguando no estuário,
nas proximidades do Convento do Carmo.
4- Ribeirão dos Soldados: também nascia no Monte
Serrat, seguia mais ou menos a linha da atual Av. Senador Feijó,
no Centro, e desaguava no Estuário, ao lado do antigo
Forte da Vila. |

Os Quatro Cantos, confluência da
Rua Direita (XVde Novembro), com a Rua da Alfândega e
Beco do Inferno (Rua Frei Gaspar) e com Rua Antonina (boulevard
da XV). A casa da esquerda é de Frei Gaspar da Madre
de Deus. (tela de Calixto) |
Santos
na época da Independência |
De 1765 em diante a população de Santos aumenta,
mas dentro de praticamente o mesmo espaço, sem expansão
para as laterais. Houve mudanças em prédios públicos,
como a Alfândega, os largos foram definidos e algumas
ruas mudaram de nome. O mapa urbano avançou um pouco
em direção aos morros, ganhando mais uma faixa
de quadras e ruas, dentro do plano xadrez.
Em 1814, o segundo censo da Vila indicava uma população
de 5.128 habitantes, incluindo os arredores: cerca de 20 ruas
e praças localizadas no Embaré, Outeirinhos, Praia
de Santo Amaro, Praia de Pernambuco, Praia do Góes e
Praia da Bertioga. Nesse ano, Santos contava com 1 tabelião,
77 negociantes, 5 ourives, 9 ferreiros, 17 carpinteiros, 2 marceneiros,
4 calafates, 3 pintores, 1 tanoeiro, 10 alfaiates, 2 barbeiros,
24 sapateiros, 6 botequineiros, 2 músicos, 1 boticário
e 2 médicos.
Em 1822, novo censo acusou uma população de 4.781
habitantes. Nessa época, a Vila era formada pelas seguintes
vias principais: Rua dos Quartéis, Rua Josephina, Rua
Santa Catarina, Rua Setentrional, Rua Meridional, Rua Direita,
Travessa do Parto, Travessa da Banca do Peixe, Beco do Inferno,
Rua Antonina, Travessa da Alfândega, Rua da Praia, Rua
da Graça, Rua de Santo Antonio, Rua do Valongo, Rua de
São Bento, Travessa do Carmo, Rua e Largo da Misericórdia,
Largo do Carmo, Rua do Sal, Largo do Rosário, Rua do
Rosário, Rua do Campo, Rua Vermelha e Rua do Itororó. |
 |
1- Igreja de S. Catarina
2- Casa do Trem Bélico
3- Quartéis
4- Matriz
5- Hospital Militar/Santa Casa
6- Palácio dos Governadores
7- Alfândega
8- Forte da Vila
9 - Pelourinho
10- Arsenal da Marinha
11- Ig. e Convento do Carmo |
12- Igreja da Misericórdia
13- Igreja do Rosário
14- Casa da Câmara e Cadeia
15- Igreja do Carvalho (Capela
de Jesus, Maria e José)
16- Igreja da Graça
17- Convento de S. Francisco
18- Mosteiro de São Bento
19- Igreja de S. Jerônimo
20- Fonte do Itororó
21- Fonte das Duas Pedras |
|
Observando os aspectos da Vila em 1822, podemos notar que
ela continua com o mesmo traçado, porém com alguns
acréscimos, como o Largo do Rosário, que por ser
início do Caminho do Mar rumo a São Paulo, tornou-se
a principal entrada da cidade. Também ensaiva seu início
a Rua Nova (depois Áurea, atual General Câmara),
paralela à via principal, com o estabelecimento das primeiras
moradias.
Continuavam os largos em frente às igrejas com a função
de oferecer espaços públicos. O maior ficava ao
lado da Igreja da Misericórdia, que deu origem à
atual Praça Mauá. Outro grande espaço público
era o Largo da Matriz, que ocupava a atual área da Praça
da República. A Igreja do Rosário, cuja construção
se iniciara em 1765, possuía o Pátio do Rosário,
o espaço que mais sofreu transformações
no centro da cidade, até a formação da
atual Praça Rui Barbosa. |

Santos em 1822, na concepção
de Calixto, onde se vê a área do Valongo e a foz
do São Bento, com o Convento de S.Francisco à
direita e a Capela de Jesus, Maria
e José à esquerda (este painel pode ser admirado
no prédio da Bolsa de Café). |
|
1839
- A vila agora é cidade de Santos |
A Vila cresce
sem progresso
Em 1827 a região de Cubatão é aterrada
e Santos ganha ligação para São Paulo por
estrada de rodagem. No ano seguinte, um novo censo indica o
número de habitantes: 5.142 pessoas.
Em 1839 a Vila de Santos é elevada à categoria
de cidade sem ter nenhum novo prédio de vulto - apenas
os primitivos edifícios, baixos, abafados e escuros,
muitos em péssimo estado de conservação.
O calçamento se resumia em simples empedramento de algumas
vias e travessas centrais, sujeitas a inundações
frequentes por falta de sarjetas e bueiros. Não havia
água canalizada ou esgoto e os ribeirões atravessavam
a Vila a descoberto servindo de lixeira para a população.
Não existia a remoção de lixo - o destino
de todos os resíduos da cidade eram os rios e as praias,
que viviam cercadas por urubus. |

Os grandes espaços públicos
são uma característica até o início
do século XX,
quando os largos viram praças ajardinadas. Acima, o Largo
da Matriz visto do
prédio do antigo Colégio dos Jesuítas,
por volta de 1875 (foto Setur) |
A cidade ruma
para o Paquetá
Até 1850 a cidade se desenvolve sensivelmente para o
lado dos Quartéis. As edificações na praia
estendem-se bem além da Rua da Palha (atual Constituição),
em direção ao Paquetá, abrindo-se a Rua
Nova, depois Áurea (General Câmara), e transpondo
o Largo da Coroação, antigo Largo da Misericórdia
(Praça Mauá).
Também a Rua das Flores (Amador Bueno), que sai do Largo
de São Jerônimo fronteiro à Santa Casa,
atinge o Largo chamado depois de Mauá e Largo José
Bonifácio (Praça José Bonifácio)
e já o transpõe em seu avanço rumo ao Paquetá.
As ruas saídas da Praça da Matriz seguem em direção
às fontes de Itororó e das Duas Pedras, onde a
cidade acaba e começam os morros.
A parte mais rica da cidade ainda se concentra na região
do Valongo, onde estão o maior movimento comercial da
cidade e os melhores hotéis e armazéns, e onde
residem as pessoas mais importantes de Santos. O único
prédio expressivo afastado dessa área é
a Câmara Municipal, cuja obra, iniciada em 1836 no antigo
Campo da Chácara (Praça dos Andradas), finalizava-se
em 1866.
Nessa época, o único melhoramento efetivo que
a cidade teve foi a instalação de 60 lampiões
a azeite e o início do serviço de água
canalizada, que vinha do José Menino por encanamento
instalado no novo Caminho da Barra (atual Conselheiro Nébias). |

A Rua Direita, em fins do século
XIX. A principal via da cidade começa a adquirir
um caráter comercial. À direita, a Associação
Comercial em sua primeira sede. |
A cidade desencrava
dos morros
Com a Lei que proibe o sepultamento nas igrejas é criado
o Cemitério do Paquetá, em 1851, o que acelera
a penetração da Rua das Flores até aquele
sítio, povoando-se rapidamente as zonas circunvizinhas.
Ao mesmo tempo, cresce a importância do Caminho Novo da
Barra, o que possibilita o desafogo da cidade, até então
apertada entre a praia do porto e os morros, alguns deles já
bastante habitados.
Em 1854 é feito novo censo que aponta uma população
de 7.855 habitantes, um crescimento acentuado em relação
ao censo anterior. O comércio portuário toma grande
impulso e aumenta o movimento de navios no Porto do Bispo e
na Praia do Consulado. Santos é porta de saída
para os produtos das povoações vizinhas, com destaque
para o açúcar dos engenhos da Ilha de Santo Amaro,
e para as primeiras safras de café da Província.
Santos recebe
melhorias
Em 1860 tem início as obras de construção
da estrada de ferro da São Paulo Railway Co. que, para
a construção da estação, compra
dos padres o Convento e a Igreja de Santo Antonio. A cidade
assiste, com indignação, a derrubada de toda a
ala esquerda do Convento e uma representação ao
Imperador consegue parar a demolição, obtendo
ordem de preservação do restante do Convento e
da Igreja. Em 1867 acontece a viagem inaugural da São
Paulo Railway, grande fator de desenvolvimento, mas Santos ainda
sofre com os péssimos serviços públicos
e com a falta de saneamento e água, agravada pelo aumento
populacional. Nessa época Santos ganha o primeiro dos
dois edifícios neoclássicos do Valongo, considerado
o mais alto de todo o país na época.
A partir de 1871 começa a ser implantado o novo serviço
de água e a cidade ganha 4 novos chafarizes, que vem
se somar aos seis já existentes. Também tem início
o serviço de gás.
Em 1871 é feito novo censo na cidade, que forneceu o
número total de habitantes: 10.120 pessoas, alojadas
em 1.382 prédios e moradias, incluindo morros, travessas
e praias. A população era formada por gente da
cidade, 1.606 escravos negros, 2.731 originários de outras
Províncias, principalmente Minas e Paraná, e 1.577
estrangeiros. |

O Largo do Rosário por volta de
1875, era o ponto inicial das recém inauguradas linhas
de bondes puxados por burros, serviço iniciado em 1872
(foto Setur). |
|
1878
- Santos, a nova cidade do café |
A riqueza e o
desenvolvimento urbano
Tudo começou em 1854: o início do ciclo econômico
do café provoca uma era de prosperidade e crescimento.
Em 1867, a Estrada de Ferro se combina com o porto criando a
logística ideal para o escoamento mais acelerado da produção
da Província. A Província produz, o porto exporta
e Santos torna-se um profissionalíssimo centro de corretagem
do produto, gerando riqueza e acarretando o desenvolvimento
urbano. Saiba
mais em Memória-Café As
mudanças no porto
Também o porto, servido por pontes e trapiches que ligavam
a praia e as pontes aos navios, sofre as primeiras modificações.
O aumento do comércio e da exportação do
café provoca a necessidade de novos investimentos e assim,
o trecho de mangue próximo a Igreja do Valongo é
aterrado para a construção de edificações
no Porto do Bispo. Da mesma forma, o grande movimento logo faz
saturar o prédio onde funcionava a Alfândega, e
em 1880 é inaugurado um novo prédio no Largo da
Matriz, no local onde ficava o prédio do antigo Colégio
dos Jesuítas, que chegou a abrigar, ao mesmo tempo, o
Hospital Militar, a Alfândega e o Palácio dos Governadores. |
 |
1- Trem Bélico
2- Quartel
3- Fortaleza
4- Ponte da Alfândega
5- Alfândega
6- Igreja Matriz
7- ant. Casa do Conselho
8- Convento do Carmo
9- Arsenal da Marinha
10- Capela do Carvalho
11- Consulado Americano
12- Consulado Italiano
13- Consulado Belga |
14- Consulado Inglês
15- Estação de Trem
16- Convento de S. Antonio
17- Igreja da Graça
18- Consulado Alemão
19- Theatro
20- Igreja do Rosário
21- Câmara e Cadeia Nova
22- Mosteiro de São Bento
23- Santa Casa
24- Consulado Português
25- Consulado Francês
26- Telégrapho Nacional |
|
Santos torna-se
cosmopolita
Nessa época, nos idos de 1870, podemos notar que Santos
se tornou um centro cosmopolita pela presença dos consulados
estrangeiros que se estabeleceram na cidade para dar suporte
ao grande número de imigrantes em trânsito pela
cidade, e para atender as tripulações dos navios
de todas as bandeiras que atracavam no porto. Surge o Correios
e Telégraphos, as praças começam a ser
urbanizadas, como a Praça dos Andradas, e a Administração
Municipal muda-se para os dois casarões do Largo Marquês
de Monte Alegre, em 1895. A
ocupação dos morros
A partir do final do século XIX e início do século
XX, a ocupação dos morros e da área insular
do município se acentua principalmente com a chegada
dos primeiros imigrantes. A maioria dos moradores dos morros
é de portugueses, vindos principalmente da Ilha da Madeira,
que encontraram na topografia irregular um ambiente muito parecido
com o de sua ilha de origem. O primeiro morro a ser ocupado
é o de São Bento, seguido do Morro da Nova Cintra,
ocupado a partir da construção de um bonde funicular
que ligava o bairro do Jabaquara ao topo do morro. |

Vista da cidade no início do século
XX. A região do Valongo começa
a ser ocupada por grandes armazéns e a população
mais abastada
se muda para a Vila Nova e o Paquetá (col. M.Serrat). |
A elite da cidade
deixa o Valongo
Com o crescimento dos negócios, o comércio cafeeiro
precisou de mais espaço. O transporte e estocagem das
sacas de café fazem surgir inúmeras cocheiras
e vastos armazéns, que passam a ocupar principalmente
os antigos casarões do bairro do Valongo. A população
que antes vivia nessa área da cidade muda-se para uma
nova área, mais sofisticada: a Vila Nova. Para o Paquetá
se mudam o Mercado Municipal e o Hospital da Beneficência
Portuguesa. Além disso, a primeira linha regular de bonde
em direção à Barra facilita a ocupação
de áreas à beira-mar, onde os cidadãos
mais abastados começam a manter suas chácaras
e casas de verão. |

A zona do Outeirinhos, entre Macuco e
Vila Mathias, era um extenso brejo,
a exemplo de outras áreas da planície, A partir
de 1907, a construção dos
canais de drenagem começa a mudar a paisagem, (Coleção
João Gerodetti) |
Aspectos urbanos
- 1896
Em 1896 a cidade tinha cerca de 35.000 habitantes, contra os
20.000 de 1888, e mais de 3.000 prédios, contra os 2.000
do censo anterior. No entanto, não chegava a ocupar 1/4
da área que ocupa hoje. Havia resistência da população
em abandonar a área central. Depois do surgimento do
bairro da Vila Nova, apenas algumas poucas casas pontilhavam
aqui e ali pela Rua Octaviana (atual Conselheiro Nébias),
o Caminho Novo da Barra. Neste ano é aprovado um novo
Código de Posturas, elaborado sob orientação
do Dr. Brant de Carvalho, com a finalidade de regulamentar as
construções da cidade e os hábitos de higiene
da população, uma tentativa de minimizar o péssimo
estado sanitário de Santos. |
 |
Esta planta, de 1896,
é um projeto para a expansão da cidade,
de autoria da Câmara Municipal. No detalhe se pode
ver a rigidez do chamado "plano xadrez", muito
usado em Portugal. Do projeto Saturnino considerou algumas
das vias propostas, como a Rodrigues Alves. O resto ficou
apenas no papel (foto Mapas de Santos) |
|
|
Século
XX - A Metamorfose |
O saneamento e
as transformações na cidade
A partir de 1889 tem início a grande campanha pelo saneamento
de Santos, com as primeiras intervenções projetadas
pelo eng. Garcia Redondo e executadas pela Cia Docas de Santos,
juntamente com os aterros e as obras de construção
do primeiro trecho de cais do novo porto organizado. Em 1905
a Comissão de Saneamento tem as suas atribuições
ampliadas pelo Governo do Estado para realizar intervenções
urbanísticas, e Saturnino de Brito, seu engenheiro-chefe,
elabora um planejamento urbano completo, visando organizar o
crescimento da cidade nas áreas ermas da planície
e das praias. Na época, Santos tinha cerca de 45.000
habitantes (censo de 1901) e 161 ruas, nenhuma delas alcançando
2 km de extensão. O
projeto de Saturnino
O projeto de Saturnino de Brito previa um extenso Jardim Balneário
que ocuparia uma área do Gonzaga entre a Av. Ana Costa,
Rua Galeão Carvalhal, Av. Washington Luís e Av.
Vicente de Carvalho. A Avenida Marechal Deodoro ligaria a Praça
Independência ao Morro da Nova Cintra, atravessando perpendicularmente
os bairros do Campo Grande e Marapé (já estava
previsto no prolongamento desta via a construção
de um túnel rumo à Zona Noroeste da cidade). As
avenidas Francisco Glicério e Afonso Pena seriam marcadas
por duas largas pistas e um magnífico jardim central.
Haveria também um grande jardim na confluência
da Rua Mato Grosso e Av. Washington Luís, o que daria
enorme charme à Vila Rica, bairro de classe alta previsto
no projeto. O projeto previa também a construção
de um grande centro poliesportivo no antigo hipodrómo
do Jockey Club de Santos, que ocuparia a área entre as
ruas Epitácio Pessoa e Alexandre Martins e entre as avenidas
Joaquim Montenegro e Pedro Lessa. O centro poliesportivo abrigaria
um enorme estádio, ginásios, quadras poliesportivas
e piscinas. |
|
 |
Acima, parcial do Projeto de Urbanização
de Saturnino de Brito a partir dos canais de drenagem
- das grandes áreas verdes projetadas, foram implantadas
apenas os jardins da Orla e o Orquidário:
1: Praça Washington (hoje Orquidário)
2: Grande Rotatória Marechal Deodoro (atual Pinheiro
Machado x Carvalho de Mendonça)
3: Grande Rotatória Bernardino de Campos (atual
Francisco Glicério x Av. Bernadinho de Campos)
4: Jardins centrais da Av. Francisco Glicério
5: Grande Jardim Balneário
6: Jardins da orla da praia
7: Praça Central (atual Av. Washington Luís
x R. Mato Grosso)
8: Grande Praça Palmares (Siqueira Campos x Afonso
Pena) |
|
veja
detalhes do projeto de Saturnino em Urbanismo |
|
O fim do paraíso
dos turcos
A partir de 1904 o Centro passa por grandes transformações,
com a reurbanização de diversas áreas.
Era Intendente o Dr. Francisco Malta Cardoso, que promove a
demolição dos velhos quarteirões do Largo
do Rosário, reurbanizando a Rua do Consulado (atual Frei
Gaspar) e o antigo Beco do Inferno, conhecido como o Paraíso
dos Turcos. No lugar do antigo casario surgem prédios
altos, arejados e bem iluminados. O Dr. Francisco Malta também
inova ao oferecer isenção de impostos por 5 anos
para quem construísse prédios nas duas principais
avenidas da cidade: a Av. Conselheiro Nébias e a Av.
Dona Anna Costa. O incentivo da Prefeitura atinje o objetivo
e a área central da planície começa a ser
ocupada (esse tipo de incentivo serviu de exemplo para as administrações
futuras, como acontece no projeto Alegra Centro do ano 2000). |

Demolição no Beco do Inferno
e na Rua do Consulado (Frei Gaspar)
em 1904 - o Centro muda de cara (foto Setur) |
O desaparecimento
das igrejas
Os edifícios sacros, antes numerosos e espalhados por
toda a Vila, já não aparecem com a mesma frequência.
Nessa época, a Igreja sofria golpes por causa dos interesses
comerciais aliados à tendência anti-clerical do
século XIX. Além disso, a elite já não
promove a construção de capelas face à
promulgação da Lei proibindo os sepultamentos
em igrejas. A Igreja da Graça, na atual Rua do Comércio,
presente na vida da cidade desde 1562, é demolida em
1903. Outra importante igreja que desaparece é a Igreja
Matriz de Todos os Santos, derrubada em 1908 para a ampliação
de seu Largo, a nova Praça da República. A Capela
de Jesus, Maria e José, também chamada Capela
do Carvalho, que ficava na Rua da Praia (hoje Tuiuti), é
derrubada durante a construção dos primeiros trechos
de cais. Das 11 igrejas barrocas da cidade restaram apenas cinco:
Igreja de Santo Antonio do Valongo, Igreja de Nossa Senhora
do Desterro, Capela da Ordem 3ª do Carmo, Igreja do Carmo
e Igreja do Rosário. |

Urbanização da Praça
da República, antigo Largo da Matriz, em 1908. A reforma
derruba a centenária igreja para o alargamento da praça,
sob a alegação de que
estava condenada devido ao ataque de cupins (foto Setur) |
Os canais de drenagem
Em 1906 tem início as obras que iriam mudar a cara da
cidade: a construção dos canais de drenagem. Em
1907 é inaugurado o primeiro dos sete grandes canais
que cortam a ilha do estuário até o mar. Os canais
íam se abrindo acompanhados de obras de urbanização
em seu entorno: a terra retirada aterrava brejos e alagadiços,
eram construídos passeios, as ruas ganhavam calçamento,
levantavam-se muros e plantavam-se muitas árvores que,
segundo Saturnino, aliadas à ventilação
natural dos espaços abertos dos canais, minimizariam
as temperaturas escaldantes de Santos. Saiba
mais sobre os canais em Saneamento |

O Canal 1 no ano de sua inauguração.
Segundo Saturnino, os canais poderiam
suportar a navegação de pequenos botes para transporte
de doentes ao Hospital
de Isolamento durante eventuais epidemias (coleção
João Gerodetti) |
Aspectos urbanos
- 1913
Para Santos, o café foi realmente um fenômeno.
Em algumas dezenas de anos a pequena cidade litorânea
sofreu profundas transformações, tornando-se uma
urbe cosmopolita, com amplas avenidas margeadas por magníficos
prédios. Nossas praias, rodeadas de mata tropical, tornaram-se
balneários concorridos, conferindo um aspecto de estância
turística à cidade. O crescimento demográfico
ocorreu com o mesmo ímpeto: dos 7.855 habitantes em 1854,
início da era do café, a população
saltou para 13.000 em 1890, 35.000 em 1896 e 45.000 em 1901.
Em 1913, Santos possuía 88.967 habitantes, dos quais
71.236 na área urbana e apenas 17.731 na zona rural.
Do total, 38.771 eram paulistas e cerca de 5.000 eram provenientes
de outros estados. Os estrangeiros somavam quase 41,9%, sendo
23.000 portugueses, 8.291 espamhóis, 3.164 italianos,
911 turcos, 651 japoneses, 478 alemães, 309 ingleses,
226 austríacos e 218 franceses. A cidade possuía
6.790 prédios nas duas primeiras zonas da cidade e 3.788
na área rural. As ocupações dos terrenos
caminhavam em direção às praias e a elite
construía mansões e palacetes ao longo da orla. |

Vista do Monte Serrat em 1915, mostrando
o desenvolvimento urbano ao
longo das novas avenidas abertas, em direção às
praia (foto M.Serrat) |
Novas construções
refletem a riqueza do povo santista
A riqueza advinda com o ciclo do café mergulhou a cidade
numa época de ouro que se acentua ainda mais nas primeiras
décadas do século XX e que é ostentada
claramente na imponência dos novos edifícios públicos
e privados e na construção de grandes monumentos
e praças. É a época em que surgem o novo
prédio da Alfândega (1880), o belo Theatro Guarany
(1881), o Hotel Internacional (1895) que projeta Santos no exterior,
o Miramar (1896), o Real Centro Português (1900), os Monumentos
a Brás Cubas e a Cândido Gafrée e Guinle
(1908), o Palace Hotel (1910), o Corpo de Bombeiros (1909),
o Parque Balneário Hotel (1914), o Monumento a Bartolomeu
de Gusmão (1922), o Monumento à Independência
(1922), a atual sede dos Correios e Telegraphos (1924) e, fechando
com chave de ouro as três décadas áureas
de Santos, o lançamento do grandioso Theatro Colyseu
(1924). |

O majestoso monumento à Independência,
inaugurado em 1922
no Gonzaga, reflete a riqueza da cidade na era do café
(foto Setur). |
As alterações
do projeto de planejamento
Mesmo com o aguçado estudo de Saturnino, o projeto urbanístico
de Santos rendeu longas polêmicas nos anos seguintes a
sua divulgação. Nada mais natural, pois ía
contra os interesses dos proprietários de terras que,
desejando manter intactos seus grandes terrenos e chácaras,
discordavam das desapropriações necessárias.
As críticas foram inúmeras, na maior parte completamente
inconsistentes, como alegar que havia um "exagero de linhas
retas ou ruas intermináveis". A todas as críticas
Saturnino rebateu com argumentações, mas na prática
e ao longo do tempo, foram feitas alterações significativas
no plano original. No entanto, apesar dessas distorções,
a cidade cresceu de uma forma organizada e a ocupação
do solo seguiu mais ou menos o projeto original, pelo que podemos
dizer que Santos é uma cidade planejada. A maior e mais
prejudicial distorção do projeto é a ausência
dos grandes parques, dos quais foram implantados apenas o Orquidário
e os jardins da praia, e principalmente, a minimização
das largas Avenidas Parque, um conceito até então
desconhecido no país. Mas os fatos apenas corroboram
uma verdade comprovada ao longo da História: homens de
visão estão sempre além de seu tempo, sendo
compreendidos e valorizados somente muitos anos depois. |

Vista de 1905 mostrando do início
da Av. Anna Costa e da Av. Pinheiro Machado (Canal 1). O primeiro
prédio da esquina à direita ainda existe e funciona
- o Restaurante Almeida. A elevação à direita
é o Morro do Lima, que sofreu intervenção
e desapareceu no processo de urbanização (imagem
Poliantéia). |
1920 - Santos
é outra cidade
No guia turístico "L'État de Saint Paul"
de 1926, o francês A. D'Atri escreve: "Prefiro não
dizer como era esta cidade há apenas 30 anos, quando
a visitei pela primeira vez. Hoje, ela ergue-se soberba sobre
o litoral do Atlântico e belos edifícios, palácios
modernos e monumentos arquitetônicos surgem alinhados
em ruas retificadas e ensolaradas como as das cidades marítimas
mais reputadas da Europa. Os estrangeiros que visitam Santos
manifestam marcada preferência pela Rua XV de Novembro,
ladeada de edifícios de construção recente,
grandes hotéis, luxuosos restaurantes e movimentados
cafés. "A população não
soma menos de cem mil habitantes, sem contar a população
de passagem, aquela que de manhã invade Santos para seus
negócios e retorna à tarde a São Paulo
ou outras cidades vizinhas. Assim se explica a vida movimentada
e atarefada que mantém em contínua efervescência
esta cidade marítima e comercial. A região situada
entre a parte urbana e a suburbana não está inteiramente
edificada. Na verdade, muitas ruas tem sido abertas recentemente,
em várias direções, dando origem aos bairros
populosos do Paquetá, Macuco e Vila Mathias, onde as
construções visam principalmente às necessidades
da classe média e do proletariado. Por outra parte, as
avenidas e praias atestam, pela ostentação graciosa
de seus hotéis e suas vilas modernas, o ímpeto
progressista que vem transformando vertiginosamente esta velha
cidade." |

Foto de 1915 mostrando o local conhecido
desde o século XVIII como
"Quatro Cantos", um dos pontos mais efervescentes
da cidade na época
(postal da col. João Gerodetti) |
1936 - A urbanização
das praias
Os terrenos da praia, considerados área da Marinha, foram
concedidos à Santos pelo Governo Federal por volta de
1922, para evitar o assenhoramento por particulares, a exemplo
do que aconteceu no Guarujá; este fato se deve a Vicente
de Carvalho e sua "Carta Aberta ao Presidente da República",
dirigida ao então Presidente Epitácio Pessoa.
Em 16 anos nada foi feito a respeito dos terrenos das praias
e corríamos o risco de perdê-los novamente. A única
forma de salvar as áreas da orla era iniciar a posse
imediata através da construção de logradouros
públicos. E foi ao que deu início o Prefeito Aristides
Bastos Machado, seguindo o projeto de planejamento urbanístico
de Saturnino de Brito. A partir de 1936 ele construiu jardins
e passeios, numa largura de cerca de 60 metros (na média),
no trecho entre o Gonzaga e o Boqueirão e mais uma parte
em direção ao José Menino. As obras foram
continuadas e melhoradas nas administrações seguintes.
O Prefeito Sílvio Fernandes Lopes, que construiu o trecho
final por volta de 1958, apaixonado pelos jardins, descobriu
um meio de manter sempre floridos seus canteiros - as espécies
eram cultivadas em vasos com terra adequada e os vasos eram
plantados nos canteiros, considerando-se a posição
quanto ao sol e às rajadas de vento; os vasos eram substituídos
periodicamente por plantas com floração de acordo
com a época, tornando os jardins da praia um enorme parque-jardim
com floração permanente. Se esse método
é utilizado hoje desconhecemos, o fato é que os
jardins, apesar de floridos, não oferecem a mesma variedade
e quantidade de flores do passado. |

1936 - O primeiro trecho da orla da praia
urbanizado. A construção dos
jardins da praia estava prevista no projeto urbanístico
de Saturnino. |
1938 - Novas mudanças
no Centro
No final dos anos 30 o coração da cidade sofre
mudanças em razão da construção
do Palácio José Bonifácio, a nova sede
da Prefeitura e da Câmara. O edifício, em estilo
eclético, é inpirado no Palácio de Versailles
de Paris, e a Praça Mauá é remodelada como
a miniatura da esplanada de Versailles, em harmonia com o Paço
Municipal. As obras compreendem o alargamento dos passeios laterais,
arborização e ajardinamento. A inauguração
do conjunto se deu em 1939, ano do centenário da elevação
de Santos à categoria de cidade. |

A Praça Mauá recém
urbanizada: uma miniatura da esplanada
de Versailles para harmonizar com o novo Paço Municipal. |
O inchaço
urbano e a mudança na paisagem
A partir da construção da Via Anchieta em 1943
e do desenvolvimento da indústria automobilística
na década de 60, Santos sofre profunda transformação
arquitetônica e urbana, quando é invadida pela
especulação imobiliária. A cidade descobre
o turismo de massa e, ao longo da orla das praias, antigos palacetes
dos "barões do café" vem abaixo para
dar lugar a edifícios altos, quase todos de apartamentos
para temporada. Jóias arquitetônicas se perdem
nesse processo, como o Parque Balneário Hotel e seus
lindos jardins, para dar lugar a um grande empreendimento imobiliário,
e o Palace Hotel, no José Menino, para dar lugar ao confuso
Universo Palace. Os arranha-céus que invadem o horizonte
e mudam a paisagem também formam uma barreira para a
brisa do mar e a ventilação da cidade, que se
torna mais abafada. |

Vista da praia do Boqueirão em
1954 mostrando o acentuado crescimento vertical. Note a pista
especial com os trilhos de ida e volta dos bondes (col.João
Gerodetti) |
A decadência
urbana nas décadas de 70 e 80
A partir de meados da década de 70, a poluição
das praias e vários outros fatores mergulham a cidade
em uma fase de decadência geral que se reflete também
sobre o patrimônio arquitetônico da cidade, entregue
ao abandono e ao descaso. O Theatro Guarany é destruído
por um incêndio e o Colyseu, tombado em 1982, está
entregue ao abandono; os antigos casarões neoclássicos
do Valongo, tombados em 1983, abrigam armazéns, escritórios,
botequim e borracharia, até o incêndio em 1985.
Todo o Centro está mergulhado no marasmo produzido pela
transferência gradativa do comércio para o Gonzaga.
Construções, praças e monumentos, tudo
vai se deteriorando aos poucos. Os
prédios tortos da orla
A construção dos edifícios da orla, sem
fundações profundas ou sem um estudo detalhado
sobre o impacto geológico, deu origem, alguns anos depois,
aos chamados prédios tortos da orla. Isto porque o subsolo
de Santos é formado por camadas alternadas de areia e
argila marinha até a profundidade média de 50
m, quando se encontra a rocha. Enquanto as camadas de areia
podem servir de apoio a fundações, por possuirem
baixa deformabilidade e uma capacidade de carga razoável,
as camadas de argila marinha são altamente compressíveis
e tem baixíssima capacidade de carga. A partir dos anos
40 foram construídos edifícios de 18 andares apoiados
em fundações de 1,5 de profundidade e os recalques
provocados por seu peso sobre as camadas de argila foram muito
grandes, variando de 40 a 120 cm. Se o prédio recalcar
como um bloco, não há grandes problemas, já
que não se aumentam as tensões nos elementos estruturais;
mas se uma parte do prédio recalcar mais que outra, haverá
redistribuição das tensões. O problema
é que, além do recalque sofrido por um prédio,
a construção de outro prédio vizinho provoca
novos recalques no primeiro, variando de acordo com o peso,
proximidade e outros fatores. Nada disso teria acontecido se,
contrariando a ganância das construtoras, os prédios
tivessem sido limitados à altura de 9 andares, que foi
o que realmente aconteceu na década de 1960, por uma
mudança na Lei de Uso e Ocupação do Solo.
|

O Edifício Excelsior, construído
pela Metromar na esquina da Av. Siqueira
Campos (Canal 4), é um dos mais graves casos de recalque
da orla da praia. |
|
Século
XXI - A recuperação |
A recuperação
a partir dos anos 90
Em meados da década de 90, Santos sai do processo de
estagnação. O primeiro passo é a conscientização
da população de que a cidade possui uma vocação
turística inexplorada: praias, museus, edifícios
e monumentos históricos. O turismo vem sendo, desde meados
dos anos 90, o principal alvo dos investimentos públicos
da cidade. Vale ressaltar neste aspecto a recuperação
da balneabilidade das praias, a restauração do
palacete da Av. Bartolomeu de Gusmão, último remanescente
da época dos "barões do café"
e sede da Pinacoteca Benedicto Calixto, a revitalização
do Museu de Pesca, a reforma do Aquário Municipal, a
urbanização do Emissário Submarino, além
de outras pequenas intervenções como a reurbanização
da área central da Praça Independência,
a limpeza dos monumentos e a reforma nas calçadas centrais
(ilhas) da Av. Ana Costa e Conselheiro Nébias.
2000 - A revitalização do
Centro
A Associação Centro Vivo se mobiliza e a Administração
Municipal oferece incentivos fiscais para provocar a restauração
e a manutenção, por particulares, de antigos edifícios
no Centro. É o Projeto Alegra Centro. Além dele,
começa a ser implantado o Plano de Revitalização
do Centro, com uma série de medidas e obras: a criação
de um calçadão na Rua XV, as restaurações
da Via Sacra do Monte Serrat e da fachada da Casa de Frontaria
Azulejada, a revitalização da Casa do Trem Bélico
e da Cadeia Velha, a reurbanização do Outeiro
de Santa Catarina e seu entorno, a reurbanização
parcial no Valongo, a iluminação por lampiões
antigos na Rua XV, no Valongo e na Rua do Comércio, a
restauração da Estação do Valongo
e o lançamento da linha e do bonde históricos.
Todas essas medidas tornam o Centro um foco de atração
turística, para lá atraindo, dentro do conceito
de reciclagem arquitetônica, clubs noturnos e restaurantes
concorridos. O Alegra Centro vem dando tão certo que
em 2003 a Rua XV, a Rua do Comércio, a Bolsa do Café
e o nosso bonde histórico constantemente servem de cenário
para comerciais, filmes e novelas de época.
Ainda em 2003, a Prefeitura adquiriu as ruínas do Teatro
Guarany prometendo a sua reconstrução. Conheça
o Guarany em Memória - Teatro
Enfim, entre erros e acertos dos últimos governos municipais,
uma série de medidas e iniciativas vem sendo tomadas
para recolocar Santos no caminho de sua natural vocação
turística. |

A série de incentivos fiscais oferecidos
dentro do projeto Alegra Centro,
da Prefeitura Municipal, vem mudando a paisagem do Centro (foto
PMS) |
 |
|
|
|