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Santos,
planejar sem planejamento |
Como a maioria das vilas do Brasil colonial, o desenvolvimento
e expansão da malha urbana de Santos aconteceu sem o
planejamento necessário que a adequasse às condições
de seu território, impondo a seus habitantes graves problemas
de ordem sanitária. O fato do porto ser apenas um ponto
de entrada para o continente - de passagem, e não de
permanência - impedia o seu desenvolvimento social e econômico.
Na segunda metade do século XIX, a produção
de café no sudeste e a extração de borracha
no norte do país impulsionavam a economia, capitalizando
e inserindo o Brasil em um processo de modernização
mundial. Os portos eram portas de entrada e de saída
e deveriam representar a suposta modernidade que aqui se construía.
O saneamento de Santos estava portanto relacionado às
questões de interesse nacional, aos quais os interesses
locais deveriam submeter-se, o que fez da Câmara Municipal
a porta-voz dos inúmeros protestos da cidade.
O engenheiro sanitarista Saturnino de Brito, selecionado para
a tarefa após o conturbado processo no qual estavam envolvidos
interesses de todas as esferas de poderes, desenvolveu um projeto
para a cidade que primeiramente tratava da malha urbana existente
e depois criava um suporte para a expansão desta mesma
malha em direção à barra. As condições
de insalubridade da cidade não estavam apenas relacionadas
com a morfologia do território, mas também à
tipologia da ocupação, que impedia a adequada
ventilação e iluminação das habitações,
levando-o a sugerir em seu projeto formas adequadas de ocupação
dos lotes.
Como previsto, a malha urbana do território expandiu-se
seguindo a lógica das instalações sanitárias
já construídas por Brito e sobre a qual o seu
projeto urbano constituía apenas uma organização
espacial e de "embelezamento" da cidade. Hoje, com
o plano e sua malha totalmente ocupados, - mesmo que não
realizado a intento, - o projeto de Brito constitui um dos importantes
fatores de identidade da cidade, marcado principalmente pelo
passeio público na orla e pelos canais que são
suas principais referências. |
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1900-1910
- Saturnino de Brito: uma visão de futuro |
O saneamento
provoca o planejamento urbano
Em fevereiro de 1905 a Comissão de Saneamento de Santos
tem suas atribuições ampliadas pelo Governo do
Estado para a realização de intervenções
urbanísticas. Assim, na esteira do plano de saneamento
de Santos, cujas obras teriam início a partir de 1906,
Saturnino de Brito, engenheiro-chefe da Comissão, elabora
um completo projeto de planejamento para a ocupação
urbana da cidade. Saturnino
elabora plano de ocupação urbana
Inspirado nos pensamentos e técnicas de desenvolvimento
urbano então em voga, como os de Camilo Sitte, por quem
tinha profunda admiração, Saturnino de Brito realiza
aguçados estudos para organizar o crescimento da cidade
e a ocupação das áreas ermas da planície
e praias, considerando aspectos como o clima quente da região
e o aumento populacional e todas as demandas que esse crescimento
acarretaria, como a necessidade da implantação
de um transporte de massas eficiente e um futuro túnel
ligando a parte sul da ilha à parte noroeste através
dos morros da região central.
Naquela altura, os canais já estavam definidos pelo projeto
de saneamento e acompanhavam os caminhos dos córregos
existentes, como o córrego dos Sapateiros que foi retificado
e deu lugar ao canal 1, no trecho da Vila Mathias ao Mercado
Municipal. Outros referenciais importantes mantidos por Saturnino
foram as vias Ana Costa e Octaviana (Conselheiro Nébias),
que desde 1889 cortavam a ilha de São Vicente no sentido
norte-sul. Ele ainda considerou algumas ruas propostas pela
Câmara Municipal, como a Avenida Taylor (atual Rodrigues
Alves), além de outras já existentes, como a Rua
Carvalho de Mendonça, que ele apenas prolongou.
Os princípios
do projeto
Para destacar a qualidade da visão e a capacidade de
antecipação de futuro de Saturnino de Brito, vale
dizer que, à época em que idealizou seu projeto,
Santos tinha cerca de 45 mil habitantes e apenas 161 ruas, das
quais só 14 ultrapassavam 1 km de extensão.
No plano da cidade, ele evitou desenhar ruas curvas, injustificáveis
em um território plano como o nosso e, segundo ele, "
inaceitáveis para o santista". Evitou também
a rigidez e a homogeneidade de um plano xadrez, como o plano
proposto em 1896 pela Câmara Municipal de Santos. Imaginou
uma cidade com densos pacotes habitacionais divididos por extensas
áreas verdes, uma cidade que propusesse no caminho, do
centro para a praia, surpresas como praças e lindos jardins.
No entanto, aplicou o chamado "plano xadrez" na região
ao lado da Barra (a parte mais estreita da ilha), a "título
de preenchimento", como ele mesmo argumentou, "como
simples rede para não deixar esta região ao completo
abandono". |
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As Avenidas Parque
de Saturnino
O plano de Saturnino, que vemos acima na parcial da planta original
de 1910, era pioneiro, apresentando um grande eixo que acompanhava
o formato da porção leste da ilha, as Avenidas
Parque, conceito até então desconhecido no país.
Na Avenida Parque Saneamento (hoje Francisco Glicério),
haveria os trilhos da linha ferroviária bem no meio da
faixa central, ladeados por linhas do tramway electrico
(bonde elétrico), seguidas de pistas expressas de autos
de ambos os lados. Essa moderna faixa de sistema viário
e de transporte seria ladeada por faixas de jardins e ruas para
acessos e retornos. Na altura da atual Conselheiro Nébias,
esse eixo principal seguiria em direção à
Ponta da Praia com o nome de Avenida Parque da Barra (atual
Afonso Pena), com duas largas pistas para automóveis
e uma larga faixa central, que seria ocupada por áreas
de bosque e áreas destinadas à instalação
de equipamentos públicos (escolas, clínicas, etc).
A partir do canal 6, o eixo se bipartiria formando um sistema
‘Y” que estruturaria a malha viária na ponta
leste da ilha. As
grandes praças rotatórias
Todos os principais eixos viários da cidade seriam articulados
por grandes praças rotatórias. A Praça
Independência, por exemplo, seria uma delas, articulando
a Av. Ana Costa com o eixo diagonal proposto para a atual Av.
Marechal Deodoro. Ainda haveria a Grande Rotatória Bernardino
de Campos, na confluência da Avenida Parque Saneamento
com a Avenida Marechal Deodoro e o Canal 2. Seguindo pela Marechal
Deodoro, haveria a Grande Rotatória Marechal Deodoro,
na confluência do Canal 1 e Carvalho de Mendonça.
A Marechal Deodoro, mais longa que a atual, finalizaria junto
ao sopé do Morro da Nova Cintra, dando acesso a um grande
parque público localizado no Marapé e já
preparando local e fluxo viário para um futuro túnel
em direção à Zona Noroeste através
do morro da Nova Cintra.
Seguindo o eixo principal em direção à
Ponta da Praia, haveria mais duas grandes rotatórias
na Avenida Parque da Barra, nos cruzamentos com o Canal 4 (Praça
Palmares) e Canal 6. |
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Detalhes da Avenida Parque
da Barra (hoje Afonso Pena). Acima, da esquerda
para a direita, no miolo central temos um campo de esporte,
dois sanitários, uma escola com um lago central (o losango),
dois jardins desenhando o retorno
das pistas e um bosque (à direita). No trecho abaixo
temos escola, campo
de esporte, piscina, quadra e um bosque. Nas imagens podemos
ver bem
que se trata de uma ampla avenida, com duas pistas duplas
e um magnífico jardim central, com espaço para
equipamentos públicos. |
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Os parques e áreas
verdes
Os parques e praças são uma constante em todas
as cinco zonas nas quais foi dividida a cidade. Além
de um enorme parque projetado no sopé do morro, no Marapé,
no Gonzaga haveria o imenso Parque Balneário, ocupando
o quadrilátero que vai da praia até a atual Rua
Galeão Carvalhal, entre o Canal 3 e a Av. Ana Costa.
Outro grande parque se situaria no final da Avenida Parque da
Barra (Afonso Pena), na Ponta da Praia, e um menor ficaria no
final da Avenida Parque Saneamento, no José Menino (atual
Orquidário). No atual bairro do Boqueirão existiria
mais um grande parque, a Praça Central, na confluência
do Canal 3 (Av. Washington Luiz), atual Rua Mato Grosso e dois
eixos em formato de "X" que delimitariam a chamada
Vila Rica, projetada para receber as residências da elite
da cidade.
Ainda haveria duas praças um pouco menores na Ponta da
Praia, ao final de cada "perna do Y", na ponta da
Barra, com vista para a entrada do Estuário. Para finalizar,
o projeto previa a urbanização dos terrenos fronteiriços
à orla marítima, com jardins por toda a extensão
das praias, até a ponta da Barra.
A acentuada quantidade de áreas verdes, além de
atender a vocação turística da cidade e
aspectos sociais e de lazer, constituía fator fundamental
para a ventilação e amenização das
altas temperaturas da cidade, bem como a manutenção
da boa qualidade do ar. O
hipódromo e as áreas esportivas da cidade
A área do antigo hipódromo do Jockey Club de Santos
seria ocupada por um grande centro poliesportivo, no quadrilátero
formado pelas ruas Alexandre Martins, Epitácio Pessoa,
Cel. Joaquim Montenegro (Canal 6) e Pedro Lessa, quadrilátero
que foi ocupado posteriormente pelo conjunto do BNH e, mais
recentemente, pelo Shopping Praiamar. O setor esportivo da cidade,
antevendo os conceitos do urbanismo moderno, abrigaria um grande
Estádio Municipal, além de ginásios, quadras
poliesportivas descobertas e um conjunto de piscinas públicas.
Outras quadras e campos esportivos estavam previstos no plano,
em áreas do extenso "miolo" das Avenidas Parque.
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Detalhe da Avenida Parque
Saneamento (atual Francisco Glicério).
Bem no centro estão os trilhos da Southern S. Paulo Railway
e, de cada
um dos lados as linhas do Tramway Electrico; seguem as pistas
duplas
de autos com jardim central e, por fim, vem as quadras residenciais. |
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1911-1950
- As Distorções do Projeto Urbanístico |
O projeto polemizado
O plano urbanístico de Saturnino de Brito rendeu longas
polêmicas nos anos subsequentes a sua divulgação,
em 1910, discutidas no recinto da Câmara Municipal e apoiadas
nas ruas pelo jornal "A Tribuna". As críticas
foram inúmeras, na maior parte completamente inconsistentes,
como alegar que havia um exagero de "linhas retas"
ou ruas "intermináveis", com mais de 1 km de
extensão, ou ainda que as pontes deveriam ter a mesma
largura e nível das ruas ou que deveria haver uma ponte
em cada cruzamento de ruas. A todas as críticas o competente
engenheiro rebateu com argumentações, mas a grande
verdade é que o projeto batia de frente com os interesses
dos grandes proprietários de áreas urbanas que,
desejando manter intactos seus terrenos e chácaras, discordavam
das desapropriações necessárias à
sua execução. As
aplicações na prática
Ao longo do tempo, os administradores locais foram modificando
na prática e de forma significativa o projeto original
de Saturnino. O traçado da cidade não se expandiu
a esmo, mas muitas das idéias e conceitos que davam o
ar de vanguarda ao plano não foram executadas. As Avenidas
Parque, por exemplo, não passam hoje de meros eixos rodoviários,
estreitos e congestionados. A Francisco Glicério corre
ao sul da linha férrea e não a seu redor, e a
Marechal Deodoro, não tão larga como o previsto,
vai só até a Francisco Glicério. O traçado
da Afonso Pena também sofreu uma grande alteração:
ao invés da linha reta bem pelo meio da ilha, seu traçado
está mais ao nordeste, com um acentuado desvio na altura
da atual Praça Visconde de Ouro Preto.
Outra mudança que podemos notar é uma diminuição
geral da largura das pistas e a ocupação da mesma
área com mais ruas e quadras do que no plano original.
No atual bairro da Pompéia, por exemplo, no quadrilátero
que vai da praia até a Francisco Glicério, entre
os Canais 1 e 2, existem hoje dezenove quadras onde estavam
previstas apenas doze.
Ao final, quadras foram divididas, traçados de ruas alterados
e até hoje a cidade não conta com um sistema eficiente
de transporte público, tendo prevalecido os interesses
das grandes companhias de transportes, seja a The City of Santos
Improvements Co. e seus bondes no passado, seja o Grupo Severiano
Gomes no presente.
Quase todos os jardins e parques projetados foram eliminados
e, conforme se verticaliza a cidade, ela vai se tornando tudo
aquilo que justamente Saturnino não desejou: uma cidade
densa e homogênea em toda a sua extensão, com edifícios
para todos os lados, sem as aberturas e respiros representados
pelos parques e praças.
Mas sem dúvida, a mais prejudicial distorção
que o plano original sofreu foi a total minimização
do amplo eixo central da ilha: as Avenidas Parque. Se tivessem
sido construídas tal como projetadas, não teríamos
metade dos problemas que temos devido à popularização
do automóvel, a nossa cliclovia poderia ser mais larga
e com muito menos cruzamentos perigosos e estaríamos
com o traçado pronto para a implantação
de linhas de bondes elétricos modernos, ou mesmo para
o VLT (veículo leve sobre trilhos). |
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Santos
e o planejamento: uma análise crítica |
Considerações
sobre o projeto de 1910
São muitos os méritos do plano de Saturnino de
Brito, uma tentativa de conciliar a cidade então existente
com a Santos do futuro, levando em consideração
o território e a paisagem, com seus córregos e
morros, e eliminando o crescimento desordenado ou ordenado apenas
pelos interesses privados de grandes proprietários de
terra. As questões sanitárias envolviam também
a erradicação de cortiços e moradias insalubres
que deveriam ser demolidas. Em seu plano, Brito teve o cuidado
de não excluir a população que os habitavam,
projetando vilas operárias que atenderiam a demanda cada
vez maior da cidade e também do porto, que se reestruturava
e exigia cada vez mais novos trabalhadores.
O ponto mais significativo de seu projeto são os traçados
de eixos longitudinais à porção leste da
Ilha de São Vicente, um voltado para as atividades de
lazer e outro voltado para os serviços.
O eixo de serviços pode ter estruturado o desenho de
Saturnino para a cidade e, neste caso, os canais seriam os eixos
alimentadores desse sistema, conforme a figura abaixo. O eixo
de serviços concentraria a maioria dos equipamentos públicos,
como escolas e hospitais. Nele haveria também um sistema
ferroviário que serviria o porto, e linhas do "tramway
electrico" que poderiam ser convertidas hoje numa espécie
de metrô de superfície, que estruturaria todo o
sistema de transporte público da cidade. |
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Este eixo de serviços seria uma Avenida Parque (conceito
até então desconhecido no país) que cortaria
a cidade no sentido leste-oeste. Dessa idéia original
que Saturnino nos deixou, não fizemos nada a não
ser as avenidas Francisco Glicério e Afonso Pena que,
bem mais acanhadas, são hoje importantes eixos do sistema
viário da cidade, mas nunca os eixos estruturais idealizados
por Saturnino.
Outro eixo, que Saturnino jamais desprezou, é o eixo
de lazer constituído pelas praias onde, seguindo sua
idéia inicial, construímos o nosso lindo jardim
à beira-mar.
O desenvolvimento da cidade se deu muito mais em razão
dos eixos de fluxos do que pela concentração de
atividades. Neste aspecto Santos, assim como as demais cidades
brasileiras, cresceu sob o ponto de vista de quem anda de automóvel.
Ao invés de termos um eixo estrutural no centro da ilha,
temos pequenos eixos transversais, notadamente os canais, que
já estavam definidos pelo projeto de saneamento, e as
avenidas Ana Costa e Conselheiro Nébias, que já
existiam na época do planejamento, todas vias que vem
concentrando cada vez mais atividades comerciais. As
falhas do plano de 1910
Mas também há falhas no plano de Saturnino, como
a ausência de um desenho para a ocupação
das quadras. Infelizmente ficamos presos ao lote, ao contrário,
por exemplo, do Plano Cerdá de Barcelona. Lá,
além do desenho do sistema viário, Cerdá
planejou também a forma como os quarteirões deveriam
ser ocupados. Foi determinado que seriam construídos
edifícios de cinco andares nas bordas das quadras, junto
às ruas. Assim, o "miolo" da quadra fica livre,
sendo de uso comum aos moradores de todos os prédios.
O desenho das quadras não é uma mera solução
estética, mas sim, uma forma de garantir à todas
as unidades habitacionais daquela cidade quente e úmida,
a iluminação e a ventilação adequadas.
Ou seja, a qualidade de vida lá não estava apenas
ligada à drenagem do solo e ao desenho urbano como aqui,
mas também ao desenho da quadra, da posição
adequada dos apartamentos, para que seus moradores jamais sofressem
com o mofo ou com o calor excessivo. |
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A esquerda, as quadras do Plano
Cerdá de Barcelona com os edifícios localizados
na periferia da quadra deixando o miolo livre, como área
de lazer comum à todos
os prédios, e garantindo iluminação e ventilação
a todas as unidades residencias.
A direita, as quadras de Santos divididas em lotes, com edifícios
próximos uns aos outros, afetando a iluminação
e a ventilação de todos os apartamentos. |
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Sem um desenho apropriado para as quadras, a cidade se verticalizou
sem regras, com cada construtora ou incorporadora centrando-se
exclusivamente na sua edificação, sem considerar
a cidade onde ela seria inserida. Santos se transformou num
"pardieiro", um amontoado de prédios desconexos,
onde a janela da sala de um apartamento abre para a área
de serviço do edifício vizinho, ou a gordura da
cozinha do vizinho, entra pela janela do quarto no outro edifício,
só para citar alguns casos. As exíguas áreas
de recuo entre as edificações comprometem tanto
a ventilação da cidade como um todo, quanto a
ventilação e a iluminação de cada
unidade habitacional.
O
atual Plano Diretor
O último Plano Diretor de Santos só
aumenta ainda mais a "balbúrdia" e o que já
era um absurdo poderá vir a se tornar um verdadeiro pesadelo,
com as construtoras vendendo em suas propagandas um estilo de
vida incompátivel com a nossa cidade. Quatro vagas de
garagem por unidade habitacional, como vem sendo construídas
nos novos "espigões", certamente significará
o colapso do já congestionado sistema viário de
Santos, e as coberturas no 30º andar dos edifícios
significarão a semi-escuridão para os primeiros
pavimentos. Além disso, a intensa ocupação do solo e a ausência de recuos adequados nas ocupações dos terrenos contribuem para tornar a cidade ainda mais quente e abafada.
Não seria necessário que Saturnino de Brito estivesse
vivo para criticar o novo Plano Diretor, já que temos
entre nós uma nova geração de arquitetos
e urbanistas para fazê-lo. O novo Plano Diretor erra ao
traçar somente políticas privadas e ausentar-se
das políticas públicas de desenvolvimento que
tracem o planejamento de Santos diante das questões que
envolvem a cidade contemporânea. Globalização,
conexões, mobilidade, redes, questões que estruturam
o planejamento das cidades globais nos países desenvolvidos
não são contempladas no Plano Diretor, que foi
pensado sob uma ótica local, não levando em consideração
as demandas da Região Metropolitana. Sem a discussão
e a consideração dessas questões, permaneceremos
desconectados e despreparados para enfrentar a nova realidade
urbana imposta pelo crescimento e pelo desenvolvimento tecnológico
de nosso tempo. |
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