Gente que fez história
José Bonifácio de Andrada e Silva
1763 - 1838
José Bonifácio nasceu em Santos, em 13 de junho de 1763, no seio de uma aristocrática família portuguesa. Sua instrução inicial foi dada por seu próprio pai, e pelo Frei D. Manoel da Ressurreiçao.
Seguiu para São Paulo aos 14 anos, onde fez o curso de Humanidades e depois para Portugal, aos 20 anos, onde ingressou na Universidade de Coimbra, formando-se em Filosofia Natural e Leis. Especializou-se em Mineralogia e Minas e, ainda jovem entrou para a Academia Real de Ciências.

Em 1790, na qualidade de mineralogista, partiu em viagem pela Europa acompanhado de outro brasileiro, Manoel Ferreira da Câmara Bittencourt. Segundo o historiador Mello Moraes, da comissão de estudos que enviou José Bonifácio pela Europa fazia parte Martinho de Mello, Ministro da rainha Dona Maria I, que na verdade o enviou pelo receio de que ele viesse a fazer uma revolução no Brasil.

Essa peregrinação científica durou 10 anos, durante os quais ele viajou e estudou por quase todos os países da Europa, sendo aluno de Lavoisier em Paris, de Chaptal e Fourcroy, de Jussieu e Hany. Em Freyberg estuda com Werner, Lempe, Kohler, Kjozsch, Freiesleben, Lampadins, entre outros. Estuda oritognosia, geognosia, montanística, teoria das máquinas, direito e legislação de minas, ensaios químicos dos minerais, química prática, metalurgia, matemática pura e aplicada, além de outras ciências. Em cada ponto do Velho Mundo escreveu José Bonifácio diversas "Memórias" sobre variados assuntos, tendo sido admitido como sócio em todas as Academias de Ciências do seu tempo.

Em 1800, de volta a Portugal, foi nomeado para a cátedra de Metalurgia na Universidade de Coimbra, onde permaneceu durante alguns anos, sendo também Intendente Geral das Minas e Metais do Reino, além de Superintendente do Rio Mondego, de Obras Públicas de Coimbra e Desembargador do Porto.

Durante as invasões francesas lutou com as tropas lusas como comandante do Corpo Acadêmico, atingindo o posto de tenente-coronel. Terminada a guerra, foi nomeado Intendente de Polícia da cidade do Porto e depois, em 1812, foi eleito Secretário Perpétuo da Academia Real de Ciências.

Em 1819 Thomaz Antonio da Villa Nova Portugal, brasileiro e então Ministro de D. João VI no Rio de Janeiro, solicita às Cortes que enviem José Bonifácio para assumir como seu ajudante. A Regência em Portugal nega o pedido, reflexo de um receio que virara tradição: o de que a presença de José Bonifácio no Brasil representava perigo à paz e ordem públicas na colônia. Um segundo e mais enérgico despacho foi enviado pelo Ministro e a este a Regência obedeceu. Assim, José Bonifácio retorna para o Brasil. Na verdade, José Bonifácio não assume o cargo de ajudante do Ministro, reforçando assim a idéia de que tudo não passou de um estratagema de Thomaz Antonio para trazer José Bonifácio de volta à terra natal e fazer valer aqui as suas aspirações separatistas.

Ainda no mesmo ano de 1819, José Bonifácio e seu irmão Martim Francisco partem em sua famosa "Viagem Mineralógica pela Província de São Paulo", pela qual ele recebeu o título de Conselheiro pelo Rei D. João VI. Além do aspecto científico essa viagem teve também caráter político, quando Bonifácio pode sentir o ambiente e o pensamento geral da Província e fazer inúmeros contatos políticos.

Em 1821, o povo e as tropas de São Paulo, cansados das medidas recolonizadoras das Cortes de Portugal, aclamam um Governo Provisório do qual José Bonifácio é feito Vice-Presidente (já que ele recusara a Presidência). Em dezembro, Bonifácio reúne os membros desse Governo para elaborar representação ao Príncipe Regente, solicitando a sua permanência no Brasil - o famoso "Fico".
José Bonifácio não assistiu ao Fico pois estava em viagem de Santos
Bonifácio em tela de Benedicto Calixto
ao Rio de Janeiro. O historiador Mello Moraes conta que Bonifáciopegou uma canoa até Itaguaí, para ir à Fazenda Santa Cruz, onde estava a Princesa Dona Leopoldina. Foi ela quem lhe deu a notícia do Fico e da nomeação dele como Ministro, nomeação que ele recusara a princípio, mas que acabou aceitando por insistência da Princesa. O Conselheiro Drumond, confidente da Princesa e a quem ela entregava a correspondência mantida com Bonifácio, diz que foi através de Dona Leopoldina que José Bonifácio pode realizar seus ideais como sonhava, fazendo a independência do país tal como se deu, sem fragmentação de nossa unidade territorial, no que ele chamava "peça inteiriça de arquitetura social".
 
Em agosto D. Pedro encontra-se em viagem a São Paulo e Santos, por insistência de José Bonifácio, que arquitetava assim os movimentos para criar as condições que levassem o Príncipe a tomar uma atitude definitiva. Em agosto de 1822 realizava-se a famosa reunião ministerial sob a presidência da Princesa, famosa por ter nela sido resolvida a Independência do Brasil, com ou sem a ajuda de D. Pedro. O resultado dessa reunião, relatado ao Príncipe por cartas de José Bonifácio e da própria Princesa, e enviadas juntamente com novas ordens vindas das Cortes Portuguesas precipitaram o famoso "Grito do Ipiranga" e a independência do Brasil
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Após a independência, José Bonifácio foi eleito Deputado à Assembléia Constituinte Brasileira e nomeado membro da comissão encarregada de elaborar o primeiro projeto da Constituição.

De José Bonifácio partiu o primeiro ato público em favor do fim da escravatura no Brasil, a sua famosa "Representação sobre a Escravatura", apresentada à Assembléia Constituinte do Império do Brasil em 1823 e impressa em Paris em 1825. Nela, Bonifácio denunciava a crueldade da escravidão e os males que ela fatalmente causaria à formação de nossa raça e de nossa sociedade e à nossa própria evolução.
Mas ele era um homem adiante de seu tempo. Nem os políticos, nem a sociedade escravocrata, nem mesmo o próprio clero estavam preparados para tanto. O documento de Bonifácio criou um choque geral, muitos o julgaram louco, e isso acabou acarretando a sua decadência política.

Em novembro de 1823 a Assembléia Constituinte foi dissolvida pelo imperador D. Pedro I e José Bonifácio e seus irmãos Martim Francisco e Antonio Carlos foram presos e deportados para a França.

O Imperador o chama de volta cinco anos depois, recebendo-o pessoalmente com muitas manifestações de ternura, mas Bonifácio, desiludido, se retira da vida pública. Não por muito tempo.

D. Pedro I abdica do trono em favor de seu filho e José Bonifácio é chamado para assumir a tutela do novo imperador.
Se alastram a desordem e a revolta, num dos momentos mais graves da história do Brasil. Em 1833, uma marcha do povo exaltado ao Palácio Imperial resulta na destituição de Bonifácio da tutela do Imperador, e ele é enviado preso à Ilha de Paquetá.
Julgado como conspirador, ele é absolvido, mas permanece em Paquetá, que já lhe servira de prisão, até a sua morte.

José Bonifácio era grão-mestre da Maçonaria, ocupou diversos cargos,
foi membro de inúmeras associações científicas e recebeu muitos títulos de mérito. Após a Independência quis D. Pedro lhe conceder o título de Marquês e depois a Grã-Cruz da Imperial Ordem do Cruzeiro, mas a ambos recusou por ser contra os seus princípios, traduzidos no projeto de lei que redigira: "A Constituição não reconhece nobreza privilegiada e legal". Ao invés disso, pediu a D. Pedro, "em troca de tudo, para que mande colocar no meu túmulo, depois de minha morte, à custa do Estado, uma pedra tosca, inscrevendo-se nela os conhecidos versos que os historiadores atribuem ao grande poeta português Antonio Ferreira: - Eu desta glória fico contente, que minha terra amei e à minha gente!"

José Bonifácio morreu aos 75 anos, a 6 de abril de 1838, na cidade de São Domingos de Niterói, deixando editadas mais de 70 obras de caráter científico e literário, além de numerosos manuscritos. A cidade de Santos deu seu nome a uma praça (Praça José Bonifácio, no Centro) e outra em conjunto com seus irmãos de glória e lutas (Praça dos Andradas, também no Centro). Por fim, na Praça Independência, no Gonzaga, levantou o grande monumento da Independência, em 1922. Ele foi o único que teve uma estátua inaugurada pelo Imperador D. Pedro II, a 7 de setembro de 1872, iniciativa do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Seu corpo foi embalsamado e enterrado junto ao altar-mor do Carmo, como era seu desejo. O artista equestre Antonio Carlos do Carmo, por ocasião de uma visita a Santos, mandou fazer uma lápide para indicar o lugar do túmulo. Mais tarde, uma subscrição popular promovida por estudantes da Escola Politécnica do Rio de Janeiro encomendou ao escultor brasileiro Rodolfo Bernadelli a escultura para o mausoléu. Em 1920, com a idéia de um Pantheon que recebesse os restos mortais dos 3 irmãos, os carmelitas doaram o local da antiga portaria do convento e o Pantheon dos Andradas foi construído e inaugurado em 1923.

No exterior, José Bonifácio é reconhecido como um dos libertadores da América, ao lado de Abraham Lincoln, Simon Bolívar e José San Martin.

A cidade de Santos, através da Lei Municipal 1769/99, criou a Semana José Bonifácio e passou a ter como lema Santos, Cidade do Patriarca. A Lei Estadual 10878/01 estendeu a Semana José Bonifácio para todo o Estado de São Paulo e, finalmente, a Lei Federal 11135/05 concedeu a ele o título de Vulto da Pátria e incluiu seu nome no Livro de Ouro dos Heróis da Pátria. A ong santista Movimento Pró-Memória de José Bonifácio reinvidicou que todo dia 13 de junho a Capital do Estado seja transferida para a cidade de Santos, o que acontece desde o Decreto-Lei estadual 50499/06, juntamente com a abertura oficial da Semana José Bonifácio em todo o Brasil.

Em 21 de abril de 2007 seu nome foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, que está depositado no Panteão da Pátria, localizado na Praça dos Três Poderes (Brasília-DF), juntando-se a outros títulos a ele atribuídos: Consolidador da Independência, Unificador da Pátria, Pai da Marinha de Guerra do Brasil, Libertador da América Portuguesa e Herói da Pátria.
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