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José
Bonifácio - arquiteto da Independência |
Santos orgulha-se em ter como seu filho uma figura ilustre
da história do Brasil: José Bonifácio de
Andrada e Silva, conhecido como o "Patriarca da Independência".
Ele é homenageado de diversas formas por sua cidade natal:
a Praça da Independência, a Praça José
Bonifácio, o Panteão dos Andradas e a casa da
Rua XV de Novembro, no Centro.
1763/1800 - A formação européia
José Bonifácio nasceu em Santos, em 13 de junho
de 1763, no seio de uma aristocrática família
portuguesa. Sua instrução inicial foi dada por
seu próprio pai, e pelo Frei D. Manoel da Ressurreiçao.
Seguiu para São Paulo aos 14 anos, onde fez o curso de
Humanidades e depois para Portugal, onde ingressou na Universidade
de Coimbra, formando- |
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se em Filosofia Natural e Leis. Especializou-se
em Mineralogia e Minas e, ainda jovem entrou para
a Academia das Ciências de Lisboa, onde assumiu
importantes funções.
Entre 1790 e 1800, na qualidade de mineralogista,
viajou por diversas cidades européias a mando
do governo português. Em 1801 ocupou a cátedra
de Mineralogia na Universidade de Coimbra, sendo
depois nomeado intendente-geral das Minas e Metais
do Reino. Durante as invasões francesas lutou
com as tropas lusas, atingindo o posto de tenente-coronel. |
José
Bonifácio, em quadro de Calixto |
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1776-1800 - Momento
fomenta ideais de liberdade
Os Estados Unidos declaram sua independência da Inglaterra
e as idéias liberais são reforçadas pela
Revolução Francesa de 1789. Internacionalmente,
cresce a repulsa pelo absolutismo monárquico e pelo colonialismo.
A época é de livre comércio e aumentam
as pressões de outros países contra o monopólio
comercial português e o excesso de impostos. Durante sua
estada em Paris, Bonifácio viveu o ambiente revolucionário
da "capital do mundo" entre as declarações
de Rousseau, Diderot e Condorcet. É nessa conjuntura
política que se forma o espírito liberal do jovem
José Bonifácio. 1808
- A Corte Portuguesa se instala no Brasil
A mudança da Corte Portuguesa para o Brasil colônia
foi um fator importantíssimo para a preparação
da independência. Medidas como a abertura dos portos em
1810 e a criação do Reino Unido do Brasil, na
prática, cortavam os vínculos coloniais.
1819 - O Regresso
de Bonifácio ao Brasil
Thomaz Antonio da Villa Nova Portugal, Ministro de D. João
VI no Rio de Janeiro, desejoso de proporcionar a Bonifácio
a oportunidade de voltar ao Brasil para desenvolver suas idéias
separatistas, o requisita às Cortes como assistente.
As Cortes negam e uma requisição mais enérgica
é enviada. Bonifácio retorna ao Brasil em 1819.
Na verdade, as Cortes Portuguesas temiam o espírito liberal
de Bonifácio e a influência que ele poderia exercer
no Brasil e, justamente para mantê-lo longe daqui é
que custeou seus estudos e viagens pela Europa durante dez anos.
1820 -
Movimento pela constituinte em Portugal
O aumento do comércio no Brasil acarreta uma queda do
comércio em Portugal, e todos se ressentem disso. Além
disso, os portugueses já estavam cansados do despotismo
de um sistema já destituído do esplendor da realeza,
ainda mais que seus vizinhos, a Espanha e a Itália, estavam
organizando seus governos constitucionalmente. Dessa forma se
levanta também Portugal para exigir convocação
das Cortes e a confecção de uma Carta Constitucional,
movimento que culmina com um levante insurrecional na cidade
do Porto, em agosto de 1820. Estas notícias logo chegam
ao Brasil, provocando grande polêmica entre os portugueses
natos que aqui estavam e que se manifestam a favor dos irmãos
da Península. Quando as Cortes enviam o manifesto da
Constituinte a D. João VI ele é obrigado a decretar
a sua volta a Portugal. |
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A casa onde nasceu
e cresceu José Bonifácio de Andrada e Silva,
em bico de pena de Lauro Ribeiro da Silva. Ficava na Rua
Direita (hoje XV de Novembro, 109) e, logo após
a abolição, recebeu uma placa comemorativa
para lembrar seu morador. A placa ainda existe mas, num
completo descaso pela memória de nossa cidade,
a casa foi demolida. |
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1821 - A partida
de D. João VI
Em 22 de abril, D. João decreta D. Pedro regente do Reino
Unido do Brasil e forma novo Ministério. Dois dias depois
ele embarca de volta a Portugal com grande parte dos fidalgos
que haviam vindo com ele, bem como capitalistas levando grandes
somas em dinheiro que haviam retirado dos bancos. Também
o acompanham os deputados paulistas recém eleitos que
iriam nos representar perante as Cortes: Pe. Diogo Antonio Feijó,
Dr. Francisco de Paula Souza e Melo, Antonio Carlos Ribeiro
de Andrada Machado e Silva, Dr. José Ricardo da Costa
Aguiar de Andrada e Dr. José Feliciano Fernandes Pinheiro
(depois Visconde de São Leopoldo). Com excecão
dos dois primeiros, os demais eram santistas.
1821 - As Cortes isolam o poder do Regente
Em abril, as Cortes decretam independentes do Rio de Janeiro
todos os Governos Provinciais do Brasil que, constituídos
em sua maioria por portugueses, passam a se corresponder diretamente
com as Cortes. Com isso, muitos deles deixam de pagar a sua
contribuição ao Governo de D. Pedro que se vê
incapaz de atender às depesas da administração.
Essa medida gera uma imediata reação em São
Paulo onde povo e tropas se reúnem em comício
para eleger um novo governo provisório. A presença
de Bonifácio é exigida e os nomes que integrarão
o novo governo são sugeridos por ele e aprovados por
todos. Como ele não indica a si mesmo, a multidão
o aclama para ser o Presidente, cargo que ele recusa, sendo
então nomeado Vice-Presidente. 1821-
A revolta do Chaguinhas
O ideal de liberdade cresce na mesma proporção
que gera um ódio surdo contra as Cortes e seus decretos
recolonizadores. Nos quartéis, um soldado português
na mesma unidade ganha mais que um soldado brasileiro e ainda
por cima este último recebe com atraso de 2 ou 3 anos,
uma humilhação que só faz aumentar o sentimento
antiportuguês. Foi em meio a esse quadro que, em junho
de 1821, estoura uma revolta no quartel santista, comandada
por Francisco das Chagas e José Joaquim Cotindiba, no
que tiveram o apoio de muitos populares entusiasmados. Os revoltosos
mataram os chamados "retrógrados" e saquearam
negociantes portugueses. Uma corveta portuguesa ancorada no
porto impôs resistência ao levante e as lutas duraram
dias, terminando com a chegada do 2° Batalhão de
Caçadores e a rendição dos revoltosos.
1821 -
As Cortes revidam
Um mês depois do movimento de Santos, que veio a reavivar
o sentimento nativista da colônia, as Cortes decretam
que o exército português e o exército da
colônia são uma só corporação,
uma medida que coloca as forças brasileiras sob o exclusivo
comando dos oficiais portugueses. Em setembro, outro decreto
extingue o Tribunal da Chancelaria, o Tribunal do Tesouro, a
Junta do Comércio e várias outras repartições
centrais do Rio de Janeiro; um segundo decreto ordena o regresso
do Príncipe D. Pedro. Em outubro, outro decreto nomeia,
para cada Província brasileira, um Governador das Armas,
Delegado de Poder Executivo de Lisboa, independente da respectiva
Junta Governativa. Ao final, destacam mais tropas para Pernambuco
e Rio de Janeiro. 1822
- O Dia do Fico
Depois desses fatos D. Pedro, desgostoso e humilhado, resolve
voltar a Portugal. Era dezembro de 1821 e José Bonifácio
reúne os membros do governo para em nome do povo dirigir
enérgica representação a D. Pedro, instando-o
a permanecer no Brasil. Foram os pedidos da Maçonaria,
de José Clemente Pereira, de amigos e do povo mas, sobretudo,
foram a força moral de Bonifácio e a força
do coração da Princesa que convenceram D. Pedro
a ficar. Dom Pedro anuncia a decisão de permanecer no
Brasil em 9 de janeiro de 1822, dia que ficou conhecido como
o Dia do Fico. Depois, D. Pedro organiza um Ministério
e destina a José Bonifácio a Pasta do Reino e
Negócios Estrangeiros. 1822
- As manobras militares
O Príncipe nomeia o Marechal Arouche para Governador
das Armas em São Paulo. A ação de portugueses
e elementos simpáticos a Portugal conseguem nomear um
outro chefe para todas as forças de São Paulo,
estouram um movimento e invadem as ruas da capital. Os agitadores
demovem Martim Francisco do poder e o mandam preso para o Rio,
onde o Príncipe o liberta e o coloca em seu Ministério.
O comando improvisado de São Paulo então convoca
as forças do interior da |
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Província. Santos, Itu e Sorocaba
recusam: Santos reune forças para marchar
contra o comando de São Paulo, Sorocaba forma
um governo independente da capital e Itu envia uma
representação ao Príncipe denunciando
a manobra portuguesa. A Câmara de São
Paulo, desesperada ante a anarquia militar reinante,
pede a D. Pedro que visite a Província, ponha
um fim à bagunça e veja pessoalmente
quais são os sentimentos do povo em relação
a ele. |
D. Pedro I em
quadro
de Benedicto Calixto. |
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1822 - Bonifácio
é nomeado Primeiro-Ministro
Em janeiro de 1822 D. Pedro nomeia Bonifácio como seu
Primeiro-Ministro, acumulando as Pastas da Justiça e
Estrangeiros. Como tal, ao saber dos últimos acontecimentos
em São Paulo, aconselha o Regente a visitar a Província
de São Paulo e insiste para que visite Santos também.
O Andrada incumbe justamente o Marechal Arouche de escoltar
D. Pedro, comandando o corpo de milicianos "Leais Paulistas".
1822 -
A ajuda da Princesa
O papel da Princesa Leopoldina no processo da separação
tal como ele se deu, sem a quebra de nossa unidade territorial,
foi além de ajudar a convencer D. Pedro a ficar no Brasil.
Há muito havia se estabelecido um secreto entendimento
entre Bonifácio e a Princesa. Em 23 de agosto se realiza
a famosa reunião ministerial presidida pela Princesa
Leopoldina, pois D. Pedro havia ido a São Paulo e Santos.
Esta reunião entrou para a história porque nela
se decidiu a independência, com ou sem D. Pedro, dependendo
da recepção que o Regente tivesse em São
Paulo. 1822
- A armação do cenário
Restava apenas uma decisão e ratificação
final de D. Pedro e, para instá-lo a tomar tal atitude,
Bonifácio e a Princesa escrevem cada um uma carta ao
Príncipe. O sábio santista sabia que o ambiente
do Rio de Janeiro era desfavorável a seus propósitos
e por isso armara o cenário de tal forma que Pedro, indo
às cidades separatistas de São Paulo e Santos,
seria contaminado pelo sentimento de brasilidade o suficiente
para tomar a decisão final. Ele também enviou
mensageiros ao encontro do Príncipe, o primeiro levando
cartas sua, da Princesa e do Ministro português Chamberlain,
amigo de D. Pedro. O segundo levava um informe do último
decreto das Cortes, onde se declaravam nulas todas as medidas
tomada pelo Regente no Brasil e praticamente intimava o Príncipe
a voltar a Portugal. Bonifácio calculava que D. Pedro
receberia as cartas em Santos e, conhecendo o teor de tais mensagens,
sabia que o Príncipe não poderia resistir.
1822 -
A visita a São Paulo e Santos
A entrada do Regente no Estado foi um sucesso. As forças
militares sublevadas se renderam, deputados e representantes
de diversas cidades procuraram-no com protestos de estima e
grande respeito ao que eles consideravam o "Poder Executivo
do Reino do Brasil". O povo o saudou com flores e aclamações.
Sob pretexto de visitar e conhecer a família de Bonifácio,
o Regente desce a Santos. Na verdade, ele vem sondar o ambiente,
saber com que defesas e com quem poderia contar em caso de um
ataque das Cortes por mar. Em Santos, ele sente o mesmo ambiente
de apoio que sentira em São Paulo. 1822
- "Independência ou morte! "
Em 7 de setembro, antecipando sua volta em um dia, D. Pedro
parte de Santos e, no alto da colina do Ipiranga, ele recebe
os mensageiros da Corte. O primeiro lhe entrega 3 cartas: a
da Princesa e a de Bonifácio, instando com D. Pedro em
que este era o momento de fazer a separação, e
a do Ministro português Chamberlain, que descrevia o ambiente
nas Cortes e a situação humilhante que fora imposta
a seus pais. O segundo mensageiro trazia o aviso do decreto
português. Tal como previra Bonifácio, ao ler o
decreto D. Pedro se inflama e, entre sentimentos de furor e
indignação, grita: "Independência ou
morte!" Arranca os laços portugueses do uniforme
e segue a galope para São Paulo. |
O grito da Independência na concepção
do pintor Pedro Américo. |
1822 - Os primeiros
atos do novo Imperador
Com a declaração oficial, em outubro Dom Pedro
é aclamado Imperador pelos pares do reino, sendo coroado
dois meses depois com o título de Dom Pedro I. Ele convida
José Bonifácio a organizar o primeiro governo
autônomo brasileiro, nomeando-o como Chefe de Ministério
encarregado da política interna e externa. Dom Pedro
declara inimiga qualquer tropa lusa que desembarque no Brasil
e José Bonifácio redige o "Manifesto às
Nações Amigas", que justifica o rompimento
com as Cortes Constituintes de Lisboa e assegura a "independência
do Brasil como reino irmão de Portugal".
1823 - A dissidência
com o Imperador
Realiza-se a eleição dos Deputados à Assembléia
Constituinte Brasileira e José Bonifácio é
eleito e nomeado membro da Comissão que deverá
redigir o projeto da constituição. Entretanto,
José Bonifácio e outros Deputados se desentendem
com Dom Pedro I, que exige para si poder pessoal superior ao
do Legislativo e do Judiciário. O resultado dessa dissidência
é desastroso: Dom Pedro acaba por dissolver a Constituinte
em novembro de 1823, e manda prender José Bonifácio
e seus irmãos Martim Francisco e Antonio Carlos.
1823 -
O degredo na França
Durante 5 anos permanece José Bonifácio na França,
desabafando sua saudade da pátria escrevendo poesias,
quase todas assinadas com o pseudônimo de Américo
Elíseo. Apesar de respeitadíssimo como cientista,
filósofo e poliglota, ele passa apertos financeiros que
atende vendendo as peças de sua coleção
mineralógica. D. Pedro I, apesar do contragosto que sentia
em punir o amigo, julgava necessário esse desterro, temendo
que a presença de Bonifácio no país pudesse
derrubar o trono imperial. |
D. Pedro I compõe o Hino da Independência
em quadro de Augusto Bracet. |
1829 - O perdão
e o retorno de Bonifácio
Em julho de 1829 José Bonifácio desembarca no
país, sendo recebido pelo próprio Imperador. D.
Pedro manifesta sua ternura publicamente, afim de mostrar seu
sincero arrependimento pela conduta que tivera. Entretanto,
um tanto desiludido, Bonifácio recusa as ofertas reais
para assumir qualquer cargo público e se retira, em busca
de sossego. 1831
- A abdicação de Dom Pedro I
Em 1826 morre em Lisboa o rei Dom João VI. Como herdeiro
por direito da coroa lusa, D. Pedro se envolve com a sucessão
portuguesa e é obrigado a renunciar ao trono português
em favor de sua filha Maria da Glória. Em 1828, a popularidade
de Dom Pedro I entra em queda após a perda da Província
Cisplatina para as tropas uruguaias. Em 1830 ele perde qualquer
apoio dos liberais brasileiros com o assassinato do jornalista
oposicionista Líbero Badaró, a mando de policiais
ligados ao governo imperial. Sem sustentação política,
Dom Pedro I se vê obrigado a desistir e abdica do trono
em favor de seu filho, nomeando José Bonifácio
como seu tutor. 1833
- Bonifácio é preso
Após a abdicação de Dom Pedro I, o Brasil
foi governado por políticos em quatro regências
consecutivas, numa fase de grande agitação social
e política. Exaltados e restauradores se alternavam em
agitações políticas, promovendo desordens
de todo tipo. Até que em 1833, o povo exaltado marcha
ao Palácio Imperial, prende José Bonifácio
e o envia em custódia para a Ilha de Paquetá.
Destituído da tutela do Imperador, o Patriarca da Independência
é processado e julgado como conspirador, de cuja acusação
é absolvido. |
O túmulo de José Bonifácio
no Pantheon dos Andradas, no Centro de Santos. |
1838 - Morre José
Bonifácio
José Bonifácio passa seus derradeiros anos na
ilha de Paquetá, que já lhe servira de prisão.
Morre em Niterói, no ano de 1838, com 75 anos de idade.
1999 -
Santos institui a Semana do Patriarca
A importância de José Bonifácio de Andrada
e Silva para o país e para Santos é tanta que,
na época em que a Vila de Santos foi elevada à
categoria de Cidade, em 1839, houve propostas para que o nome
do município fosse alterado para Andradina ou Bonifácia.
Em 13 de junho de 1999, o então Prefeito Beto Mansur
assinou Projeto de Lei instituindo a "Semana do Patriarca
da Independência" no calendário oficial de
Santos, a ser comemorada na segunda semana de junho de cada
ano. A lei determina também que Santos se torne a "Cidade
do Patriarca". Saiba
mais sobre Bonifácio em História - Gente. |
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