Grandes hotéis históricos de Santos
Hotel Internacional
O Hotel Internacional começou a funcionar em 1895 com o nome de Grande Hotel do José Menino e foi o primeiro hotel de toda a praia. Localizado no José Menino, acabou impulsionando o desenvolvimento daquele bairro, já que para lá se estendeu uma das linhas de bonde da empresa de Mathias da Costa. Foi construído por um grupo de empresários, entre eles o Dr. Estanislau Amaral, um dos primeiros moradores do bairro.
O hotel tinha duas fachadas, uma voltada para a linha do bonde, na atual Avenida Presidente Wilson, e a outra voltada para o mar e a Ilha Urubuqueçaba. Era de luxo e esplendor inusitados para aquela época e chamava a atenção de quem chegava a Santos de navio. Isolado de tudo e rodeado de jardins cheios de recantos e quiosques, era como um refúgio encantador e lá se reunia a grã-finagem paulista para desfrutar longas estações de banho de mar, considerados na época excelentes para a saúde.
Possuía diversos salões, sala de música, sala de leitura, fumoir, sala de conversação, sala de bilhar e o boudoir das damas. E ainda havia, Junto ao hotel, uma pista de patinação e cabines onde os banhistas podiam alugar calções.
Vendido a Madame Elisa Poli, o hotel passou a se chamar Grande Hotel Internacional e, sob sua administração, promovia festas e concertos. Todas as noites havia soirée com uma pequena orquestra que animava e convidava os hóspedes para a dança.
Em 1959 o Hotel Internacional foi demolido para a realização de obras de urbanismo necessárias para a solução de problemas de tráfego.

O Hotel Internacional, na orla da Praia do José Menino, por volta de 1915.
Ao fundo, a Ilha Urubuqueçaba (imagem M.Serrat)
 
Palace Hotel
Também no José Menino foi construído o segundo hotel de luxo da orla da praia (onde hoje se situa o Condomínio Universo Palace), muito superior ao Hotel Internacional. Construído por um grupo de portugueses depois de 1900, o Palace Hotel era o mais luxuoso do litoral. Foi inaugurado em 5 de março de 1910 e era uma construção imponente, cheia de detalhes luxuosos, como esculturas francesas e lustres de cristal. Sob a administração de seu proprietário, Manuel Alves Tomás, permaneceu em destaque nas décadas de 30 e 40, até perder o lugar para o Parque Balneário. Também ali funcionou um cassino até 1947, quando o jogo foi proibido no Brasil.
Foi vendido em 1964. Seus móveis e utensílios foram leiloados e o prédio foi demolido para dar lugar ao Condomínio Universo Palace. Pela foto abaixo se pode ter uma idéia do que perdemos com a sua demolição, no aspecto histórico-arquitetônico.

O Palace Hotel, no José Menino, o mais luxuoso hotel do litoral
até perder o lugar para o Parque Balneário Hotel.
 
Hotel Casino Parque Balneário
Localização privilegiada
O Parque Balneário Hotel foi um dos grandes indicativos da renovação urbanística de Santos. Localizava-se no melhor ponto da orla, ocupando todo um quarteirão nas esquinas das Avenidas Dona Anna Costa e Presidente Wilson (hoje Vicente de Carvalho). A partir da Av. Ana Costa, o corpo principal do hotel estendia-se, rodeado por lindos jardins, rumo aos fundos do terreno, junto à atual Rua Carlos Afonseca.

O primeiro Parque Balneário

Segundo Charles Hü, o primeiro Parque Balneário foi construído por Júlio Conceição em 1900, que se convencera do futuro de Santos como estância balneária devido a sua praia de areias finas e mar calmo. Era constituído de um pequeno hotel e uma área de recreio , como um parque de diversões, denominada Parque Balneário, nome depois assumido pelo hotel. O hotel tinha 90 apartamentos, refeitórios, salão de danças, sala de conversação e sala de concertos. Teve outros donos até ser comprado em 1912 por João Fraccarolli.

Os jardins e o coreto do Hotel Parque Balneário, por volta de 1910. Ao fundo,
o primeiro prédio do hotel, inaugurado em 1900, no rastro do desenvolvimento
trazido pelo bonde (coleção João Gerodetti).
O sucesso e a construção do novo prédio
Em 1914 João Fraccarolli iniciou a construção de um novo Hotel Parque Balneário, com suntuosas linhas arquitetônicas, acompanhando a riqueza que chegava à orla, representada pelas luxuosas mansões dos "barões do café". A obra durou cerca de quatro anos e todos os materiais empregados foram importados da Europa: lustres de cristal belgas, mármores de Carrara, mobiliário italiano, maçanetas de porcelana francesas, louças inglesas - até os uniformes dos funcionários foram importados.

Vista da fachada e entrada principal do novo Parque Balneário Hotel, voltada
a avenida Anna Costa, por volta de 1940 (coleção João Gerodetti).
Um hotel que era referência de luxo e elegância
Junto ao edifício, um enorme jardim dava requinte à reuniões, chás e divertimentos infantis sob lindos e vastos guarda-sóis, oferecendo ainda, devido à sombra e ao frescor da brisa do mar, um "refrigerador" de ar natural, uma das principais características do bairro do Gonzaga. Sua arquitetura suntuosa em estilo neoclássico, seus extensos salões em mármore com enormes lustres de cristal, o mobiliário impecável, as obras de arte, os grandes bailes de gala e a frequência da alta elite brasileira fizeram do Parque Balneário uma das principais referências da época em hotelaria no Brasil e na Europa.
Vista do hall da entrada principal
Aspecto do salão
de refeições
 
Instalações que eram sinônimo de conforto
O Parque Balneário possuía 250 apartamentos com serviço de água quente e fria e foi um dos primeiros do país a possuir ar condicionado central. Os imensos salões de refeição e de baile, os amplos halls, os salões internos e os grandes terraços com vista para os bem cuidados jardins proporcionavam aos hóspedes conforto inigualável. O cuidado era tanto que já naquela época a cozinha oferecia pratos dietéticos especiais. O serviço de jantar era de porcelana inglesa, os talheres e baixelas, de prata, as toalhas e guardanapos eram de linho bordado com o monograma do Hotel, que também ía nas louças, nos cinzeiros, nas toalhas, nas portas - nenhum detalhe era esquecido.

Onde tudo acontecia
O Parque Balneário, que também possuía um cassino bastante frequentado, atraía para seus salões a melhor sociedade santista. Não apenas os hóspedes podiam usufruir de suas dependências e jardins, a nata da sociedade santista fazia do hotel o seu ponto de encontro. Festas memoráveis foram realizadas em seus salões, os preferidos para os bailes de debutantes, formaturas e importantes reuniões de negócios. Foi sede de muitos congressos e homenagens, com a presença de personalidades como o Rei Alberto da Bélgica, Afonso Pena, Getúlio Vargas, Júlio Prestes, e pessoas em evidência na época, como os aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral.

Fachada lateral do complexo do Parque Balneário Hotel, por volta de 1940. Aqui funcionava o cassino, bastante concorrido (img. Sílvio Roberto Smera).
A trágica demolição: perda irreparável para a cidade
Na década de 1960, o terreno e o edifício foram comprados pelo Santos Futebol Clube que lá instalou a sua sede social e manteve o hotel funcionando por algum tempo. Por fim, o Parque Balneário Hotel foi demolido para dar lugar a novos, mas nunca igualáveis, empreendimentos imobiliários. Um grande leilão marcou a venda de todo o material empregado no hotel, de maçanetas a lustres, de pratos a janelas. Dois imensos lustres do salão principal foram arrematados pelo antigo Hipermercado Eldorado e um deles foi instalado na loja da Alameda Pamplona, em São Paulo. Quem tiver a oportunidade de apreciar esse lustre, com cerca de 8 metros de altura, poderá imaginar quão esplêndido era o Parque Balneário Hotel e o quanto a cidade de Santos perdeu com a sua demolição.
 

O que restou do Parque Balneário: um prédio
anexo que abrigava serviços e a criadagem
dos hóspedes e que hoje está tombado.
Atlântico Hotel
Edifício é referência até hoje para santistas e turistas
Dos grandes e históricos hotéis de Santos, o Hotel Atlântico é o único que permanece de pé. Projetado no início da década de 1920, trazia uma grande inovação à construção civil da época. Ao contrário dos demais grandes edifícios da cidade, ele era totalmente coberto por uma laje de concreto, o que garantia uma temperatura agradável aos andares superiores do edifício. Inaugurado em 1928, o Atlântico foi considerado um dos grandes hotéis do estado de São Paulo e sua linha arquitetônica neoclássica ainda pode ser observada até hoje, na esquina da Av. Ana Costa com Av. Presidente Wilson, no Gonzaga.

Vista geral do complexo por volta de 1930: na frente, o hotel
e, mais atrás, as instalações do cassino e do teatro.
Um hotel com instalações de primeira linha
De propriedade da "Companhia Atlântico Hotel Theatro e Casino", o Atlântico foi inaugurado em 29 de novembro de 1928, com 150 quartos e apartamentos com banheiros próprios, salões de festa, chá, reuniões, refeições, leitura e brinquedos para as crianças, além de lavanderias a vapor e instalações frigoríficas. Era um hotel elegante com pisos de mármore e uma porta giratória para acesso a seu grande hall de entrada.

Vista do salão de refeições.
Os serviços impecáveis do hotel em 1940
O que mais caracterizava os serviços do Atlântico Hotel era a infraestrutura ao banhista. Dispondo de cabines para troca de roupa dotadas de banheiro e ducha de água quente e fria, o hotel dava todo o conforto aos hóspedes que chegavam da praia. Além disso, o Atlântico possuía serviço de água quente e fria nos apartamentos, central telefônica e uma grande relação funcionário/hóspede, o que garantia a seus clientes serviço e conforto impecáveis.

O Atlântico visto da Pr. Independência por volta de 1950. O bloco em primeiro plano é o cassino (fechado em 1947, viria a abrigar o Cine Gonzaga), o segundo
é o teatro, então sede do Clube Sírio Libanês, e o bloco mais alto é o hotel.
O Atlântico hoje: a história preservada
O Atlântico Hotel é um sobrevivente. Inaugurado em 1928, foi convertido em quartel militar durante a Segunda Grande Guerra, mas sobreviveu. Também escapou da especulação imobiliária que atingiu a cidade a partir de 1960 e que fez com que perdêssemos grande parte do nosso patrimônio arquitetônico e cultural. O edifício, por suas linhas clássicas, é hoje elemento marcante na rotina da cidade. Observando o movimento de revitalização de antigos hotéis que ocorre na hotelaria brasileira há alguns anos, santistas e turistas aguardam com grande expectativa um projeto de revitalização que transforme este hotel no mais luxuoso e requintado da região.

O Atlântico, tal como é hoje.
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