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Brasão de Armas de Santos |
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O Brasão de Santos foi adotado pela Lei 638, de 20
de setembro de 1920, quando era Prefeito o Tenente-Coronel Joaquim
Montenegro. O desenho foi feito por Benedicto Calixto, que seguiu
- ou pelo menos tentou seguir -, as especificações
estabelecidas pela própria Lei, e inspirando-se também
no brasão estampado no estandarte feito em 1888, a mando
da Casa da Câmara.
Na época, apenas algumas cidades do país possuíam
brasões, a maioria deles criados por leigos na arte da
Heráldica. Aqui não foi diferente, pois Calixto,
apesar de excelente pintor e historiador, não passava
de um curioso no assunto.
Assim, nosso símbolo apresentava muitas falhas nos elementos
que o compunham, algumas delas bem graves, como a coroa mural
de 4 torres que identificava Santos como uma aldeia, e não
como cidade.
Durante os anos que se seguiram a 1920, os erros e falhas nas
Armas Santistas foram apontados por diversos historiadores,
estudos foram feitos e profissionais foram consultados. Em 1948,
o Brasão foi restabelecido pela Lei 925, de 22 de janeiro
de 1948, no mandato do Prefeito Rubens Ferreira Martins, mas
as falhas permaneceram.
Em 1957 foi instituída a Bandeira do Município,
no mandato de Sílvio Fernandes Lopes, que utilizava o
inadequado Brasão (Lei 1986 de 3 de outubro de 1957).
Em 1980 chegou a ser apresentado um projeto de Lei (74/80) objetivando
a correção do Brasão, e que foi submetido
ao exame profissional do heraldista Lauro Ribeiro Escobar.
Finalmente, em 2003, o Brasão foi remodelado e sua modificação
ratificada pela Lei 2134 de 12 de setembro de 2003. O projeto
foi elaborado por uma Comissão Especial de Vereadores,
criada para este fim, que baseou-de no trabalho de pesquisa
dos historiadores Wilma Therezinha de Andrade, Jaime Mesquita
Caldas e Antonio Ernesto Papa. Embora não tenham sido
corrigidas todas as falhas, algumas das mais gritantes foram
sanadas. |

O Brasão de Armas de Santos que
vem sendo utilizado
desde 2004, quando falhas graves foram corrigidas. |
Brasão:
os elementos e seu significado |
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Escudo Português
Vermelho
O escudo ibérico, com a parte superior retangular
e a inferior boleada, ficou conhecido também como
"escudo português" ou "escudo espanhol",
por ter sido largamente utilizado quando das guerras que
determinaram a expulsão dos mouros da Península
Ibérica. Este é o formato de escudo adotado
pelos mais |
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tradicionais municípios de São Paulo, já
que é o que mais convém a descendentes de portugueses.
O escudo indica que esta é uma terra colonizada e formada
por portugueses. A cor vermelha - o "campo de goles"
- denota a audácia, a nobreza e a valentia. Além
disso, simboliza também o sangue derramado pelos primeiros
habitantes da terra ao defendê-la dos ataques de piratas
e índios hostis. |
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Coroa Mural
De acordo com as regras da Heráldica, nos brasões
de domínio, a condição de cidade
é representada pela coroa mural de 8 torres, sendo
toda em ouro para as capitais de Estado e em prata para
as demais cidades. A coroa mural de prata com 6 torres
(4 à vista), representa uma vila, e a coroa de
prata com 4 torres |
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(3 à vista), representa uma aldeia. A Coroa sobre o
escudo, com ameias em forma de castelo, simboliza a força,
a resistência e a emancipação. Como praça
militar que foi desde os tempos coloniais, Santos tem direito
de utilizar o símbolo de 8 torres.
Seguindo rigidamente as regras da Heráldica, as torres
devem ter portas obrigatoriamente, e as janelas são opcionais.
A portas devem ser desenhadas em sable (preto). No entanto,
elas vêm sendo comumente representadas abertas, para simbolizar
a hospitalidade do povo do lugar. É o caso do brasão
de Santos, onde as portas também aparecem abertas, na
cor vermelha, para simbolizar a hospitalidade do povo santista. |
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Esfera Armilar
A esfera com anéis ou armilas é utilizada
como representação do Universo, onde a Terra
ocupa a posição central, na visão
ptolomaica do cosmos, e as armilas principais representam
os meridianos celestes (na vertical), o equador, os trópicos
e os círculos polares (na horizontal) e a banda
do zodíaco (em |
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diagonal). A rigor, a banda do zodíaco deveria ser
tangente aos dois círculos tropicais, estando pois inclinada
23,5 graus em relação ao equador. No entanto,
por ignorância ou por razões estéticas,
essa banda aparece habitualmente traçada com uma inclinação
muito maior. É também comum se omitirem os círculos
polares.
Esta esfera era utilizada pelos antigos navegantes em seus cálculos
astronômicos e, mais tarde, foi adotada pela Escola de
Sagres para simbolizar a ciência de "marear",
tornando-se depois um símbolo manuelino de poder marítimo,
político e econômico associado às navegações,
numa relembrança da expansão lusitana. No Brasil,
simbolizando a ciência e a navegação, a
esfera passou a figurar no próprio brasão de armas
nacional, tendo sido largamente utilizada em moedas, uniformes
militares e medalhas. |
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Caduceu
O caduceu é um bastão entrelaçado
com duas serpentes, com duas pequenas asas ou um elmo
alado na parte superior. Sua origem se explica racional
e historicamente pela suposta intervenção
de Mercúrio diante de duas serpentes que lutavam,
as quais se enroscavam em seu bastão. Os romanos
utilizavam o |
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caduceu como símbolo do equilíbrio moral e da
boa conduta: o bastão expressa o poder, as duas serpentes
representam a sabedoria, as asas simbolizam a diligência
e o elmo é emblemático de pensamentos elevados.
O símbolo é antiquíssimo e pode ser visto
na taça sacrifical do rei Gudea de Lagash (2.600 aC),
mas há indícios de que seja ainda mais antigo.
A organização de seus elementos, por exata simetria
bilateral, como a balança de Libra ou, na trindade da
heráldica, o escudo entre dois suportes, expressa sempre
a mesma idéia de equilíbrio ativo, de forças
adversárias que se contrapõem para dar lugar a
uma forma estática e superior. No caduceu, este caráter
binário e equilibrado é duplo: há serpentes
e asas, que ratificam o estado supremo de força e autodomínio
no plano inferior (serpentes, instintos) e no superior (asas,
espírito).
A antigüidade, inclusive a civilização greco-romana,
atribuiu poder mágico ao caduceu. Há lendas que
se referem à transformação em ouro de tudo
o que era tocado pelo caduceu de Mercúrio e a seu poder
de atrair as almas dos mortos. Mesmo as trevas podiam ser convertidas
em luz por virtude desse símbolo da força suprema
cedida a seu mensageiro pelo pai dos deuses. |
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Banda Auriverde
Santos ganhou o direito de utilizar a banda auriverde
da Independência em memória de seu mais ilustre
filho: José Bonifácio de Andrada e Silva,
o Patriarca da Independência. No entanto, este elemento
não é exatamente uma banda, já que
a sua colocação no brasão contraria
o padrão heráldico de banda, que deve |
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ser representada tal como no desenho acima: mais larga, com
uma inclinação específica e alcançando
as bordas do escudo. |
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O Ouro e a Prata
O ouro e a prata são os metais que figuram entre os esmaltes
(cores) utilizados na arte da Heráldica. Eles podem ser
representados como metais, com os reflexos próprios,
ou pelas cores amarela e branca, respectivamente. No brasão
de Santos, esses metais simbolizam a primeira bandeira ou entrada
no sertão, empreendida por Brás Cubas e outros
santistas nos idos de 1562. |
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Suportes
Os aqui chamados suportes, - os ramos de cafeeiro nas
laterais do escudo -, na verdade são classificados
como "tenentes" pela arte da Heráldica,
já que o "suporte" se aplica apenas às
figuras de animais. Mas ambos são adornos heráldicos
e tem a mesma função, aparecendo geralmente
em duas figuras, uma de cada lado do |
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escudo. No caso do nosso brasão, os dois ramos de cafeeiro
frutificados utilizados como "tenentes" simbolizam
o ciclo do café e a principal riqueza agrícola
do Estado de São Paulo, que tornou o Porto de Santos
seu principal escoadouro. O ciclo do "ouro verde"
constituiu a base para o comércio e deu um grande impulso
ao desenvolvimento de Santos. |
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Listel
O listel, - a figura de adorno situada abaixo do escudo,
recebe elementos conhecidos na arte da Herádica
como mottos, divisas ou legendas, geralmente escritos
em latim, francês ou inglês. Em nosso brasão,
o listel traz a frase em latim: "patriam charitatem
et libertatem docui", que quer dizer "à
pátria ensinei a caridade e a |
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liberdade". A divisa faz referência direta à
fundação da primeira Santa Casa de Misericórdia
do país e à tradição do povo santista
na luta e defesa da liberdade - primeiro pela Independência
e, em seguida, pela abolição da escravatura. |
Os
erros do antigo Brasão |
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Em 1981, a Câmara Municipal de Santos solicitou ao então
Secretário da Cultura do Estado, Antonio Henrique Cunha
Bueno, um parecer sobre o projeto de Lei que tramitava na Câmara
Santista, apresentado em 1980 pelo Vereador Kosei Iha e que
objetivava a correção do Brasão. O parecer
foi fornecido pelo heraldista Lauro Ribeiro Escobar, que apontou
erros crassos no brasão de armas santista, atribuindo-os
quase que inteiramente à uma interpretação
errônea da Lei 638 de 1920, que o instituía. Da
mesma forma, ele criticou os "excessos descritivos"
da nova Lei que estava então sendo proposta.
A Heráldica, apesar de ser uma arte complexa, remonta
ao século XII e há historiadores que acreditam
ser sua origem ainda mais remota, dada a antiguidade dos símbolos
pessoais e familiares que ela utiliza. Certos símbolos
são únicos, e apresentam apenas uma forma de representação.
Desta forma, um "caduceu" não carece de descrição,
bem como a esfera armilar - só existe uma maneira de
desenhá-los. As cores, designadas genericamente "esmaltes",
obedecem a certas regras e convenções para sua
representação. Tradicionalmente elas se dividem
em metais (ouro e prata), cores e peles (arminhos e vieiros).
As cores são oito, com nomes bastante particulares: sable
(negro), goles (vermelho), azul, sinople (verde), púrpura,
laranja, castanho e carnação (cor de pele).
A descrição de nosso brasão, segundo a
Lei que o criou, era: "um escudo português em campo
de goles, uma esfera armilar com uma banda auriverde, posta
em diagonal entre as linhas tropicais. Das extremidades do eixo
da esfera sai um caduceu de ouro, que é rematado em pinha
em torno da qual se estendem duas asas em vôo. Na haste
do caduceu enroscam-se duas serpentes do mesmo metal. Sobre
a parte superior do escudo, que é orlado de prata, pousa
a coroa mural de ouro, composta de quatro torres com três
ameias e duas portas cada uma. O escudo é cingido por
dois ramos de café de sua cor, e sobre eles a fita de
prata. Por baixo do escudo, se inscreve em letra de goles a
divisa "patriam charitatem et libertatem docui". |

O inadequado Brasão de Santos,
que vigorou por 84 anos. |
O heraldista Lauro Ribeiro Escobar apontou diversos erros
na interpretação da Lei por Benedicto Calixto,
bem como reservou algumas críticas para os elementos
de linguagem anti-heráldica da própria Lei, que
podem ter contribuído para a criação de
um brasão completamente inadequado para Santos.
Uma das falhas crassas do Brasão era o escudo. O escudo
português tem a parte superior reta e a inferior boleada
(redonda). O escudo com a ponta em chaveta (em bico na parte
inferior) que utilizávamos foi concebido pelo heraldista
francês Hierosme de Bara, no século XVI. Dessa
forma, ao invés de evocar a nossa formação
e descendência portuguesa, o brasão indicava erroneamente
uma colonização francesa. Esta falha foi devidamente
corrigida em 2004, quando se vê as duas imagens colocadas
lado a lado (veja mais abaixo).
Outro erro apontado pelo heraldista foi a reprodução
incorreta da esfera armilar, com excesso de meridianos, e da
orla de prata do escudo. Segundo o estudioso, a orla é
semelhante à bordadura, mas não alcança
as extremidades do escudo. Portanto, o que o nosso Brasão
ostentava era um "debrum de prata", ou seja, uma bordadura
reduzida (mais fina).
A coroa mural formada de quatro torres (três à
vista) dava a Santos a condição de aldeia, e não
de cidade. Além disso, o ouro na coroa é reservado
para as capitais, o que tornava a nossa coroa mural duplamente
errada. A partir de 2004, a coroa mural passou a ser de prata,
com oito torres (cinco à vista), como deve ser para uma
cidade da importância de Santos. |
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O Brasão como era antes
de 2004, à esquerda,
e o Brasão atual, à direita, com diversas correções. |
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Quanto à "banda auriverde", ela não
corresponde à peça conhecida como banda pela Heráldica,
que seria mais larga e tocaria as bordas do escudo. O que Lauro
Escobar viu e descreve é "um bastão posto
em banda, cortado de sinople (verde) e ouro". Ora, o bastão
em banda designa a bastardia e deve ser evitado em brasões
municipais, pois seria o mesmo que dizer que esta é
uma terra de bastardos (!). Apesar de no Brasão atual
esta peça ter sido um pouco alargada, não o foi
bastante e tampouco alcança as bordas do escudo para
ser chamada "banda". Portanto, de acordo com o heraldista,
esta é uma falha de interpretação que não
foi completamente corrigida.
Outra falha apontada pelo heraldista é que o listel (a
fita com a divisa) deveria acompanhar a cor predominante do
escudo, no caso o goles (vermelho), como de fato foi adotado
no Brasão oficial de hoje.
Referindo-se aos tenentes nas laterais do escudo, Lauro Escobar
fez uma crítica ao esquecimento da cana de açúcar,
sugerindo que um ramo de cana poderia muito bem figurar de um
dos lados do escudo, já que foi a primeira e uma importante
riqueza da nossa região. |
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